Setor mineral brasileiro exportou US$ 20 bilhões no 1º semestre e se vê diretamente ameaçado por tarifação dos EUA

O setor mineral do Brasil exportou US$ 20,1 bilhões no primeiro semestre de 2025, cifra 6,5% inferior ao mesmo período do ano anterior, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). Em termos de volume, foram embarcadas 192,5 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 3,7%, enquanto o faturamento total da mineração atingiu R$ 139,2 bilhões, alta de 7,5% em relação ao semestre anterior.

Apesar dos bons indicadores, o setor enfrenta agora o risco representado pelo chamado “tarifaço” dos Estados Unidos — uma tarifa ad valorem prevista entre 40% e 50% sobre produtos brasileiros importados pelos EUA, com validade a partir de 6 de agosto. O IBRAM calcula que essa medida unilateral pode provocar impacto de até US$ 1 bilhão por ano apenas na mineração, especialmente por deteriorar a competitividade de produtos como máquinas e equipamentos essenciais ao setor.

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A análise recente destacou que, embora os EUA representem apenas cerca de 4% das compras brasileiras de minérios, eles são o 12º maior importador em volume. Pedras ornamentais, nióbio, ferro e ouro semi-manufaturado estão entre os produtos mais impactados. Setores estratégicos, como bens de capital para a mineração, que dependem da importação de equipamentos dos EUA, também podem ficar mais caros e inviabilizar investimentos previstos em projetos futuros.

Uma análise conservadora do setor identificou perdas diretas estimadas em US$ 2,2 bilhões por ano para produtos siderúrgicos e minerais transformados: aproximadamente US$ 1,5 bilhão somente em ferro e aço semiacabado. Embora o minério de ferro em si — exportado principalmente à China — tenha menor exposição, a cadeia de aço global pode gerar efeitos colaterais significativos devido à volatilidade dos preços e da demanda internacional.

Paradoxalmente, produtos como ferro (25,7% das exportações para os EUA), nióbio (10,6%) e ouro semi-manufaturado (12,2%) estão fora do escopo da tarifa, conforme levantamento do IBRAM. Mesmo assim, a fábrica de decisões futuras pode tirar proveito desses componentes estratégicos para garantir espaço competitivo frente ao cenário global.

O IBRAM tem buscado interlocução com o governo federal, especialmente com o vice-presidente Geraldo Alckmin, aproximando-se da definição de postura diplomática diante à crise comercial. Embora ainda não haja confirmação de missão ao mercado americano, o instituto entende que cooperação internacional é vital na cadeia de minerais críticos — como lítio, niobismo, cobre e terras raras — para continuidade de investimentos estratégicos no país.

Além do impacto direto nas exportações, há também preocupação com medidas de reciprocidade brasileira que poderiam incluir tarifas sobre importações de insumos dos EUA. Isso aumentaria custos de produção e reduziria a competitividade internacional da mineração nacional, principalmente quando se trata de cadeia de beneficiamento e bens de capital.

Diante do contexto, o setor reforça que modelos de negociação com foco em diálogo bilateral, previsibilidade e definição de exceções técnicas são prioridades para evitar rupturas mais severas. A pressão sobre setores estratégicos reforça a necessidade de saída negociada e alinhamento de políticas brasileiras no cenário de economia global contemporânea.

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