A Polícia Federal (PF) identificou o ex-ministro do Trabalho e Previdência Ahmed Mohamad Oliveira, anteriormente conhecido como José Carlos Oliveira, como um dos principais sustentáculos institucionais do esquema de descontos irregulares em aposentadorias e pensões do INSS ligados à Conafer. Convertido ao islamismo, o ex-ministro mudou de nome após deixar o governo Jair Bolsonaro (PL).
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A nova fase da investigação levou à prisão de Ahmed e de outros oito suspeitos, nesta quinta-feira (13). A ação integra a 4ª etapa da operação que apura fraudes bilionárias contra beneficiários da Previdência Social.
Ex-ministro é acusado de autorizar repasses ilegais e favorecer organização criminosa
Segundo a Polícia Federal, Ahmed exerceu papel decisivo no esquema enquanto ocupava dois cargos estratégicos:
- Diretor de Benefícios do INSS
- Ministro do Trabalho e Previdência durante o governo Bolsonaro
A PF afirma que o ex-ministro teria autorizado repasses ilegais, facilitado a continuidade da fraude e recebido vantagens indevidas provenientes da organização criminosa.
Investigadores relatam que Ahmed atuava para liberar valores sem comprovação das filiações necessárias previstas no Acordo de Cooperação Técnica firmado entre o INSS e entidades conveniadas.
Um dos repasses suspeitos é de R$ 15,3 milhões à Conafer, montante que teria permitido a expansão da fraude, chegando a mais de 650 mil benefícios previdenciários.
Entre os materiais apreendidos, a PF destaca uma planilha de fevereiro de 2023 que registra pagamento de R$ 100 mil ao contato identificado como “São Paulo Yasser”, nome que, segundo os policiais, seria um dos apelidos usados para se referir a Ahmed.
Os agentes também encontraram mensagens de agradecimento enviadas a Cícero Marcelino, apontado como operador do esquema dentro da Conafer, após o recebimento de valores.
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“Os elementos reunidos demonstram a atuação coordenada de agentes públicos para favorecer a organização criminosa”, diz um investigador ouvido pela TV Globo sob condição de anonimato.
Ahmed chegou a ser ouvido pela CPMI do INSS em 11 de setembro de 2025, quando negou ter participado de irregularidades. À época, afirmou:
“Nunca determinei qualquer pagamento sem respaldo legal. Minha atuação sempre foi técnica.”
Cúpula do INSS sob suspeita
As acusações contra Ahmed se somam às investigações envolvendo outras figuras da alta administração do instituto. A PF afirma que o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, recebia até R$ 250 mil por mês em propina, pagos pela mesma organização criminosa. Ele também foi preso nesta quinta-feira (13).
A estrutura de repasses, de acordo com os investigadores, utilizava:
- empresas de fachada,
- intermediários financeiros,
- e até uma pizzaria, usada como cobertura para movimentações ilícitas.
A PF aponta que mais de R$ 640 milhões foram desviados somente via Conafer entre 2017 e 2023, sem considerar outras entidades que também estão sob investigação.
Fraude bilionária: organização atuou por cinco anos dentro da Previdência
O esquema, segundo a polícia, operou entre 2019 e 2024, causando prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões aos beneficiários e aos cofres públicos.

As fraudes envolviam:
- falsificação de fichas de filiação,
- inserção de dados fraudulentos em sistemas do INSS,
- uso indevido de assinaturas de aposentados,
- descontos irregulares em benefícios assistenciais e previdenciários.
Muitos idosos acreditavam estar cancelando convênios, mas na prática tinham seus dados utilizados para novos descontos não autorizados.
“Foi um ataque direto à renda de pessoas vulneráveis, com manipulação de documentos e infiltração institucional”, afirmou um delegado responsável pelo caso.
Quem foi preso na 4ª fase da operação
Além de Ahmed Mohamad Oliveira e de Alessandro Stefanutto, foram detidos:
- Antônio Carlos Antunes Camilo, o “Careca do INSS”;
- André Paulo Felix Fidelis, ex-diretor de Benefícios do INSS;
- Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, ex-procurador-geral do INSS;
- Thaisa Hoffmann, empresária e esposa de Virgílio;
- Vinícius Ramos da Cruz, presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT);
- Tiago Abraão Ferreira Lopes, diretor da Conafer;
- Cícero Marcelino de Souza Santos, empresário ligado à Conafer;
- Samuel Chrisostomo do Bonfim Júnior, também vinculado à Conafer.
Os presos devem responder por crimes como corrupção ativa e passiva, organização criminosa, peculato, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro.
Próximos passos da investigação
A PF informou que novas diligências serão realizadas para identificar outros possíveis beneficiários do esquema e rastrear a circulação dos valores desviados, que teriam passado por diversos intermediários para ocultar a origem criminosa.
O Ministério Público Federal deve apresentar novas denúncias nas próximas semanas. O INSS afirmou que colabora com as investigações e reforçou que auditorias internas estão em andamento.









