Rússia atribui a Lula a proposta da moeda comum do BRICS

A proposta de criação de uma moeda comum entre os países do BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, teria sido originalmente sugerida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A informação foi confirmada, pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, durante entrevista à imprensa russa. A declaração reacende o debate sobre a tentativa de reduzir a dependência do dólar nas transações comerciais internacionais e reforça o protagonismo do Brasil nas recentes discussões sobre uma nova arquitetura financeira global.

A proposta no BRICS gera impacto global

A moeda comum, segundo fontes diplomáticas russas, ainda está em fase de estudo. Ela não substituiria as moedas nacionais, mas serviria para facilitar o comércio entre os membros do BRICS, com lastro em commodities como petróleo, gás, ouro e alimentos, ativos abundantes nas economias do bloco.
Presidente Lula durante o discurso por videoconferência na 16ª Cúpula do BRICS - Foto: Reprodução/@LulaOficial
Presidente Lula durante o discurso por videoconferência na 16ª Cúpula do BRICS – Foto: Reprodução/@LulaOficial
Segundo Ryabkov, a proposta foi apresentada por Lula ainda em 2023, durante reuniões preparatórias para a cúpula do BRICS em Joanesburgo, na África do Sul. Desde então, o tema tem ganhado força entre os países-membros, especialmente entre Rússia e China, que há anos criticam o predomínio do dólar em mercados internacionais. LEIA TAMBÉM: ‘Tarifaço’ e a ação de Tarcísio de Freitas A ideia também está ligada ao conceito de “desdolarização”, que visa reduzir os riscos financeiros associados a sanções impostas pelos Estados Unidos a países como Rússia e Irã. O governo brasileiro ainda não apresentou uma proposta formal sobre o tema, mas Lula já demonstrou publicamente interesse na criação de instrumentos alternativos de pagamento entre os países do Sul Global. Em abril de 2023, durante visita à China, o presidente brasileiro declarou que era “incompreensível” que as nações continuassem a depender do dólar para negociar entre si. Para Lula, a nova moeda do BRICS poderia ser uma ferramenta estratégica para fortalecer a soberania econômica do grupo, hoje responsável por cerca de 32% do PIB mundial e mais de 40% da população do planeta. Apesar disso, a iniciativa enfrenta resistência interna. Parte da equipe econômica brasileira, sob comando do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defende cautela. A preocupação está no possível impacto sobre a estabilidade do real e a credibilidade da política monetária nacional. A criação de uma moeda comum entre países com sistemas econômicos tão distintos exige coordenação política e técnica. Especialistas apontam que, sem uma união fiscal, harmonia cambial e mecanismos de compensação multilaterais, a proposta pode enfrentar obstáculos significativos. Além disso, há receio de que a moeda seja dominada pelos interesses da China, a maior economia do bloco, o que poderia gerar assimetrias dentro do grupo. Apesar dos desafios, os países do BRICS vêm fortalecendo seus laços por meio do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), sediado em Xangai e presidido atualmente pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff. O banco já estuda formas de ampliar o uso de moedas locais em seus financiamentos. A proposta da moeda comum tem gerado reações mistas. Economistas do Ocidente veem com ceticismo a viabilidade de curto prazo, mas admitem que a simples discussão sobre alternativas ao dólar já causa desconforto em mercados mais conservadores. Nos Estados Unidos, setores do governo e da mídia veem a iniciativa como parte de uma movimentação geopolítica liderada por Rússia e China para desafiar a ordem financeira baseada no dólar. Já países africanos e da América Latina têm demonstrado interesse em aderir ao BRICS, atraídos pela possibilidade de maior autonomia econômica. A confirmação de que Lula foi o responsável por propor uma moeda comum do BRICS reforça o papel diplomático do Brasil nas discussões sobre um novo sistema monetário internacional. Embora o caminho até sua implementação seja longo e repleto de desafios técnicos, a proposta coloca os países do bloco no centro de um debate crucial: como reequilibrar o poder econômico global e reduzir a dependência de uma única moeda dominante.

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