A Procuradoria-Geral da República (PGR) revelou novos e alarmantes detalhes sobre o envolvimento da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) em uma operação ilegal que comprometeu a integridade dos sistemas judiciais brasileiros. Segundo a PGR, o hacker Walter Delgatti Neto, a mando da parlamentar, invadiu o Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP) utilizando as credenciais de uma juíza do Rio Grande do Sul para emitir alvarás de soltura fraudulentos e criar mandados de prisão forjados.
LEIA TAMBÉM: Elon Musk acusa Trump de envolvimento em escândalo sexual e intensifica crise política nos EUA
A ação foi descoberta em janeiro de 2023, quando o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) registrou a inclusão de um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), além de um alvará de soltura para Sandro Silva Rabelo, conhecido como “Sandro Louco” — condenado a mais de 200 anos de prisão e líder do Comando Vermelho no Mato Grosso.

Segundo a denúncia apresentada pela subprocuradora-geral Lindôra Araújo, Delgatti teria atuado com pleno conhecimento e sob incentivo de Zambelli.
“A parlamentar solicitou que ele criasse um mandado de prisão contra o ministro do STF e, posteriormente, orientou-o quanto à inserção do documento no sistema do CNJ”, diz o documento enviado ao STF.
A juíza da comarca de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, cuja identidade é preservada, afirmou que sua senha de acesso foi alterada sem autorização. “Alteraram minha senha”, declarou a magistrada ao CNJ. A PGR acredita que o acesso tenha sido obtido por monitoramento de sistemas ou engenharia social.
Walter Delgatti, preso preventivamente desde 2023, confirmou em depoimento que recebeu R$ 13,5 mil de assessores da deputada. Segundo ele, Zambelli sabia da operação e redigiu a minuta inicial do mandado contra Moraes, que ele teve de corrigir por erros ortográficos. “Ela parecia empolgada com a ideia”, disse Delgatti. “Disse que era para mostrar ao povo como o sistema estava corrompido.”
A tentativa de manipulação do sistema incluiu ainda a emissão de documentos para soltar criminosos perigosos. A defesa de Delgatti afirma que ele agiu “em delírio político” e sob influência direta da deputada.
Em maio de 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Carla Zambelli a dez anos de prisão em regime fechado, além da perda do mandato. A execução da pena aguarda julgamento de recursos. No entanto, a parlamentar deixou o Brasil alegando “exílio político”, o que levou o ministro Alexandre de Moraes a decretar sua prisão preventiva.
“A ré continua a incitar desinformação e ataques contra o Judiciário”, escreveu Moraes.
A defesa de Zambelli sustenta que ela não teve relação com as invasões e contratou Delgatti apenas para “serviços técnicos em seu site pessoal”.

“Não há provas materiais de que ela tenha instruído qualquer ação criminosa”, declarou seu advogado.
O caso escancara vulnerabilidades nos sistemas de segurança do Judiciário e levanta preocupações sobre o uso da tecnologia como arma institucional. Para o professor Leonardo Prado, da UFRGS, o episódio “é simbólico do momento de tensão entre poderes e da tentativa de descredibilização de instituições democráticas”.
A investigação permanece em curso e novas diligências podem ampliar o rol de envolvidos. “A gravidade do caso não reside apenas na fraude, mas na tentativa de abalar a confiança pública nas instituições”, disse Lindôra Araújo.