Donald Trump recebeu na Casa Branca a visita do líder da Síria, Ahmed al-Sharaa. O ex-líder da Al-Qaeda e novo aliado do presidente dos EUA, tenta encerrar o isolamento internacional de seu país e se reposicionar no cenário geopolítico.
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Pode parecer contraditória as atitudes de Trump, levando em conta seu histórico xenofóbico aos povos islâmicos. Mas é uma medida para cessar-fogo ou até trazer “paz” entre o chamado Ocidente e o terrorismo jihadista.
O encontro em Washington ocorreu seis meses após a primeira reunião entre os líderes, na Arábia Saudita, e também há poucos dias após o governo americano retirar Sharaa da lista de pessoas ligadas ao terrorismo. O gesto simbolizou a guinada radical na relação entre os dois países e também na trajetória pessoal do sírio, de 42 anos, que passou de combatente da organização terrorista a chefe de Estado reconhecido pelo Ocidente.
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Sharaa chegou ao poder em dezembro de 2024, após uma ofensiva militar que derrubou Assad, que controlou a Síria por mais de duas décadas. Desde então, o novo governo sírio se afastou de antigos aliados como Irã e Rússia, e se aproximou de países como Turquia, monarquias do Golfo e os Estados Unidos.
Questões de segurança dominaram o encontro. Washington negociou um pacto de defesa entre Síria e Israel. Também houve o anúncio da entrada do país do Oriente Médio em uma coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico (EI).
A visita ocorre ainda em um momento conturbado na Síria. Autoridades do país informaram que, nos últimos meses, dois complôs para assassinar Sharaa foram frustrados. As tentativas evidenciaram os riscos que ele enfrenta ao tentar consolidar seu governo em um país devastado por 14 anos de guerra civil. No fim de semana, o Ministério do Interior lançou uma ampla operação contra células do grupo extremista, e mais de 70 suspeitos foram detidos.
Na semana anterior, Trump afirmou na semana passada que “muito progresso foi feito” em relação à Síria e elogiou o novo líder. “Ele está fazendo um ótimo trabalho. É uma vizinhança difícil, e ele é um cara duro, mas nos damos muito bem”, disse o presidente americano.
Após o primeiro encontro entre os dois líderes, em maio, Trump anunciou a suspensão das sanções aplicadas a Damasco. A retirada dessas medidas é prioridade para Sharaa, que busca atrair investimentos estrangeiros voltados à reconstrução do país. Segundo o Banco Mundial, a recuperação da Síria exigirá mais de 200 bilhões de dólares.
No âmbito interno, o novo governo ainda enfrenta grandes desafios. Conflitos sectários recentes deixaram mais de 2,5 mil mortos desde a queda de Assad, o que tem alimentado dúvidas sobre a capacidade de Sharaa de manter a estabilidade e conduzir o país.
Washington passa a analisar a Síria quando o governo Trump tenta manter o cessar-fogo entre Israel e o Hamas em Gaza e avançar em seu plano de paz de 20 pontos para encerrar a guerra no território palestino, que já dura dois anos.
A trajetória pessoal de Sharaa é, por si só, um retrato das mudanças na política síria. Ele se juntou à Al-Qaeda no Iraque após a invasão americana de 2003 e passou anos preso por forças dos EUA. De volta à Síria, tornou-se um dos líderes da insurgência contra Assad. Conhecido à época como Abu Mohammad al-Golani, foi designado como terrorista em 2013, mas rompeu com a Al-Qaeda em 2016 e consolidou sua influência no noroeste sírio.
No final do ano passado, o governo dos Estados Unidos retirou a recompensa de US$ 10 milhões oferecida por sua captura. Na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU suspendeu as sanções impostas a ele e ao ministro do Interior, Anas Khattab. Em seguida, tanto os EUA quanto o Reino Unido adotaram a mesma medida, consolidando a reabilitação diplomática do novo governo sírio.
“A visita de Sharaa a Washington simboliza uma mudança drástica. A Síria deixou de ser um satélite do Irã para integrar o campo liderado pelos EUA, e Sharaa passou de um procurado a parceiro na guerra ao terror”, afirmou o diretor Firas Maksad, responsável pelo Oriente Médio e Norte da África do Eurasia Group, à agência de notícias Reuters.
“Muita coisa ainda pode dar errado, e há sérias preocupações sobre direitos individuais e das minorias, mas a primeira visita de um chefe de Estado sírio à Casa Branca é um momento de esperança de que o país esteja finalmente no caminho certo.”









