Irã prende ativista vencedora do Nobel da Paz de 2023

O Irã prendeu a ativista irania Narges Mohammadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2023, segundo denunciaram apoiadores de Mohammadi nesta sexta-feira (12).

Mohammadi, de 54 anos, é uma das lideres da luta histórica das mulheres no Irã contra a opressão do atual regime e as leis rigidas a iranianas. Ela se tornou a grande voz da chamada revolução feminina do país do Oriente Médio em reação à morte de uma jovem presa por conta do uso incorreto do véu islamico.

Protests erupt in Iran, one year after Mahsa Amini's death | CNN
Iranianos marcham em frente à Casa Branca em 2023. 
Imagens: Allison Bailey/Reuters

Segundo a Fundação Narges Mohammadi, a ativista foi detida “violentamente” em Teerã durante uma cerimônia em memória de um advogado de direitos humanos recentemente encontrado morto em circunstâncias controversas.

O governo Iranianio ainda não havia confirmado a prisão até a última atualização desta reportagem.

“A Fundação Narges exige a libertação imediata e incondicional de todos os individuos detidos que participavam de uma cerimônia em memória de um advogado para prestar suas homenagens e demonstrar solidariedade”, dizia um comunicado. “Suas prisões constiruem uma grave violação das liberdades fundamentais.”

Em dezembro de 2024, Mohammadi, que ganhou o Nobel da Paz quando estava na prisão, recebeu uma liberdade temporária por questões de saúde, a ativista trata de uma lesão óssea descoberta durante uma cirurgia de emergência após ela sofrer vários ataques cardíacos enquanto estava na prisão, em 2022.

Nos últimos meses, no entanto, a fundação vinha alertado que o governo iraniano ameaçou prendê-la novamente, interrompendo, assim, um tratamento de saúde.

A equipe médica de Mohammadi afirmou, em comunicado, que “seu retorno a prisão poderia agravar seriamente seu bem-estar físico”.

Mohammadi, que começou seu ativismo lutando contra penas de morte no Irã, um dos países no mundo que mais aplicam essa punição, e tortura e abuso sexual a mulheres presas, já foi presa diversas vezes. No total, foi condenada a 31 anos de prisão e 154 chibatadas.

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Reprodução: Amnesty International

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Antes de receber a licença por saúde, ela cumpria pena de 13 anos e nove meses por acusações de conspiração contra a segurança do Estado e propaganda contra o governo iraniano.

Mesmo presa, Mohammadi continuou com seu ativismo e chegou a participar de uma manifestação em frente à prisão de Ervin, em Teerã, onde estava detida.

Revolução feminina

Revolução feminina no Irã, ano 1: jovens abandonam véu obrigatório após  morte de Mahsa Amini por lenço mal colocado | G1
Mulheres caminham em rua de Teerã sem o véu, obrigatório no país, em 9 de setembro de 2023. — Foto: Vahid Salemi/ AP

Ela támbem se tornou a grande voz dos protestos no Irã desencadeado pela morte de Masha Amini em 2022, nos quais mulheres desafiaram abertamente o governo ao se recusarem a usar o hijab.

A jovem de 22 anos viajava de férias com a familia pelo Irã quando foi abordada pela chamada policia da moralidade, que fiscaliza o cumprimento das normas de vestimentas impostas a mulheres iranianas.

Polícia da moralidade: entenda como atua o órgão oficial do governo  iraniano | G1
Polícia da moralidade pode prender mulheres por não usarem um ‘hijab adequado’ — Foto: ISNA

Ela foi presa por “uso incorreto” do véu, segundo a policia iraniana. Dois dias depois, sob custódia policial, foi internada em estado grave, com lesões na cabeça, e morreu no hospital.

A morte desencadeou um dos maiores movimentos contra o regime do Irã, acusado de oprimir mulheres. Essa foram as maiores manifestações desde a Revolução Islâmica de 1979. Ao todo, mais de 500 pessoas foram mortas e 20 mil foram presas.

Como simbolismo, as mulheres começaram a retirar o véu, cujo uso, no Irã, é obrigatório, e queimá-lo em protestos. Mohammadi e três outras prisioneiras queimaram seus véus em memória do aniversário da morte de Amini e publicou um texto no Instagram, administrado por sua família, contra o véu obrigatório:

“Neste regime autoritário, a voz das mulheres é proibida, o cabelo das mulheres é proibido (…) Não aceitarei o hijab obrigatório”.

Como a morte da curda Mahsa Amini uniu etnias no Irã e estimulou  manifestações que chegaram até a Copa | G1
Mahsa Amini em imagem sem data — Foto: Reprodução/Via Reuters

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