Apesar de o presidente Donald Trump afirmar que as tarifas impostas por sua administração são absorvidas por países e empresas estrangeiras, estudos e dados recentes mostram o contrário: consumidores e companhias americanas estão arcando gradualmente com os custos da política tarifária adotada como principal ferramenta econômica da Casa Branca.
LEIA TAMBÉM: Aumento de 25% na quantidade de famílias que moram de aluguel no Brasil
Em sua rede social, Trump chegou a declarar que “os consumidores nem estão pagando essas tarifas” e que “quantias massivas de dinheiro” estariam entrando nos cofres do Tesouro. No entanto, pesquisas acadêmicas, relatórios do Federal Reserve e análises de economistas indicam que os custos estão sendo repassados ao mercado interno, pressionando importadores, varejistas e, por consequência, o bolso dos americanos.
Dados oficiais mostram que os preços de importação se mantiveram estáveis, em vez de caírem, como seria esperado caso exportadores estrangeiros estivessem absorvendo o impacto. Estimativas do Goldman Sachs calculam que, até outubro, 67% dos custos das tarifas recairão sobre os consumidores, podendo chegar a 100% com os efeitos indiretos.
O professor Alberto Cavallo, da Harvard Business School, destacou que os bens importados já custam 5% a mais em relação às tendências pré-tarifa, enquanto os produtos domésticos subiram 3%. Ele prevê que o impacto será sentido de forma mais intensa nos próximos dois anos, mesmo que o repasse aos preços aconteça em incrementos graduais.

Empresas de diversos setores já sinalizam aumento de preços. O Walmart, maior varejista do mundo, reconheceu que os custos sobem semanalmente devido às tarifas, mas prometeu segurar os preços “pelo maior tempo possível”. O Federal Reserve Bank of Atlanta também detectou expectativa maior de reajustes no setor de serviços, levantando dúvidas sobre um possível efeito inflacionário mais amplo.
Confira “Filhos do Silêncio” de Andrea dos Santos
Esse impacto progressivo preocupa sobretudo os americanos de baixa renda. Economistas alertam que famílias que vivem de salário em salário acabam recorrendo a cortes drásticos em seus orçamentos, em um malabarismo constante para priorizar despesas urgentes. Nesse cenário, práticas como a chamada “sneakflation” — pequenos aumentos discretos de preços — têm sido utilizadas por empresas para repassar tarifas sem causar choque imediato ao consumidor.
Em resumo, embora a retórica oficial insista em dizer que estrangeiros estão pagando o preço, as evidências mostram que o fardo do tarifaço está sendo sustentado pelos próprios americanos — de grandes empresas até consumidores que já enfrentam orçamentos apertados.