O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, anunciou nesta terça-feira (29) que o Reino Unido poderá reconhecer a Palestina como Estado até setembro de 2025, caso Israel não aceite uma série de condições para aliviar o sofrimento da população na Faixa de Gaza.
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Segundo Starmer, a decisão reflete a crescente preocupação internacional com o desastre humanitário em Gaza, onde milhares de crianças sofrem com fome e falta de cuidados médicos.
“Em Gaza, devido ao colapso da ajuda humanitária, vemos bebês famintos e crianças incapazes de ficar em pé, imagens que permanecerão conosco por toda a vida. Esse sofrimento precisa acabar”, afirmou o premiê britânico.
Condições impostas pelo Reino Unido
Em comunicado oficial, o governo de Londres afirmou que reverterá sua decisão caso Israel assuma compromissos considerados improváveis pelo gabinete de Benjamin Netanyahu, como:
- Permitir o fluxo contínuo de ajuda humanitária para Gaza, combatendo o risco de fome em larga escala;
- Assinar um cessar-fogo com o Hamas, abrindo caminho para negociações;
- Evitar qualquer anexação da Cisjordânia, respeitando acordos internacionais;
- Participar de um processo que leve à solução de dois Estados, com reconhecimento mútuo e segurança para israelenses e palestinos.
A declaração de Starmer ocorre cinco dias após a França anunciar que também reconhecerá a Palestina em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, o que evidencia o crescente isolamento diplomático de Israel diante de críticas internacionais por sua conduta no conflito.
Crise humanitária e pressão internacional
O conflito na Faixa de Gaza teve início após o ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, que matou 1.200 israelenses e fez mais de 250 reféns. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva militar que já resultou na morte de mais de 60 mil palestinos, a maioria crianças e mulheres, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, corroborados pela ONU.
Imagens recentes de crianças desnutridas e relatos de fome generalizada intensificaram a pressão global. Organizações como o Programa Mundial de Alimentos e a Cruz Vermelha alertam para o risco iminente de uma catástrofe alimentar, enquanto Israel nega que esteja restringindo deliberadamente o acesso a suprimentos essenciais.
No fim de semana, o governo israelense anunciou novas medidas para facilitar a entrada de ajuda, mas agências humanitárias dizem que as permissões ainda são insuficientes para atender à demanda da população sitiada.
Impacto diplomático e histórico do reconhecimento
Se concretizada, a decisão do Reino Unido representará uma mudança histórica em sua política externa. Até então, Londres defendia que o reconhecimento do Estado Palestino deveria ocorrer apenas como parte de um acordo de paz abrangente. A mudança de postura reflete o desgaste internacional com a condução da guerra e a pressão crescente por uma solução política duradoura.
Atualmente, mais de 140 dos 193 países da ONU já reconhecem oficialmente a Palestina. Na Europa, apenas Eslovênia, Suécia, Espanha, Irlanda e Noruega deram esse passo, enquanto o Brasil realizou o reconhecimento em 2010. Caso Reino Unido e França avancem, serão as primeiras potências ocidentais de grande influência a formalizar o gesto, possivelmente estimulando outros países aliados a seguir o mesmo caminho.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores de Israel classificou a medida como uma “recompensa ao Hamas”, alegando que o gesto pode dificultar as negociações para um cessar-fogo.
A decisão de Keir Starmer reforça a percepção de que a guerra em Gaza atingiu um ponto crítico, com consequências humanitárias e diplomáticas cada vez mais graves. O mundo acompanha se Israel aceitará concessões ou se o reconhecimento do Estado Palestino por grandes potências se tornará inevitável nos próximos meses.