A Polícia Federal (PF) concluiu no dia 20 de setembro que o comportamento da deputada federal Carla Zambelli não configurou crime de coação ao Supremo Tribunal Federal (STF), apesar de a intenção de “frustrar a aplicação da lei penal” ter sido verbalizada em suas postagens.
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O inquérito, encaminhado ao STF, concluiu que as ações da parlamentar não tiveram efetividade ou peso para o andamento dos processos judiciais. No entanto, o mesmo documento revela o possível uso de redes sociais de terceiros pela deputada para contornar uma determinação judicial.
“Ante o exposto, verifica-se que, apesar de CARLA ZAMBELLI ter externado, de forma reiterada, a intenção de deslocar-se para a Itália com a finalidade declarada de promover atos de obstrução de justiça similares aos supostamente praticados por EDUARDO BOLSONARO, tal desígnio não se concretizou em ações efetivas.
Ao contrário, as condutas identificadas restringiram-se a publicações em redes sociais e manifestações de caráter opinativo, notadamente em tom de aprovação à política de taxação norte-americana, sem qualquer repercussão prática sobre o curso de ações penais em trâmite no Brasil.”
Carla Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão, acusada de ser a autora intelectual da invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), executada por Walter Delgatti. A ação tinha como objetivo emitir um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Delgatti foi condenado e confirmou ter realizado a invasão a mando de Zambelli. Atualmente, a parlamentar está presa em Roma desde 29 de julho de 2025.
O relatório da PF também revelou a possível atuação de Zambelli nas redes sociais de sua mãe, Rita Zambelli, além de uma conta reserva, com o objetivo de contornar a ordem judicial que a impedia de fazer postagens. O documento aponta que o perfil de Rita Zambelli realizou publicações nos dias 23 e 24 de julho de 2025. A análise sugere que o perfil estava sendo utilizado por Carla Zambelli para divulgar a seguinte mensagem:
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“Pode conferir! É o local para continuar em contato comigo!”
A mensagem foi traduzida para o italiano e inglês e direcionava para um link de cadastro de e-mail, com a intenção de manter contato com os seguidores. Um vídeo na publicação, com a transcrição abaixo, reforçava essa intenção:
CARLA ZAMBELLI: “A voz dos poderosos tenta me calar, mas eu não me calarei. Preciso que você coloque o seu email aqui embaixo para eu poder entrar em contato com você de novo. Quando existe censura, a nossa voz precisa ser ainda mais firme.”
No dia 24 de julho de 2025, o perfil de Rita Zambelli fez outra postagem, desta vez parabenizando o filho do ex-presidente Eduardo Bolsonaro e o produtor Paulo Figueiredo pelas tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos ao Brasil:
“Parabéns ao Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo pelo trabalho.”
E completou:
“Essa Taxa Moraes pode levar o nosso país a um fracasso tremendo…, mas eles buscaram isso. Foi ato após ato, que acabou gerando esse tipo de taxação que o Trump fez agora. Mas tudo isso tem como a gente remediar se o Congresso tomar seu lugar de espaço.”
O relatório também revela um contraste entre a intenção de Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro, destacando que a estratégia de Zambelli de usar redes sociais para se expressar não teve efetividade como tentativa de coação à Justiça.
“Portanto, embora a intenção de frustrar a aplicação da lei penal tenha sido verbalizada, o comportamento de CARLA ZAMBELLI, salvo melhor juízo, não ultrapassou o campo da retórica, inexistindo prova de efetivo êxito na adoção de expedientes, contatos, articulações ou providências aptos a comprometer o regular andamento de ação penal.”