A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro abriu uma crise no PL ao confrontar publicamente a articulação costurada no Ceará entre aliados bolsonaristas e Ciro Gomes (PSDB). Durante o evento de lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo), no último domingo (30), Michelle ignorou pedidos internos para evitar críticas e atacou o ex-ministro, questionando a lógica da aproximação. “[…] fazer aliança com o homem que é contra o maior líder da direita, isso não dá.”, declarou.
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A postura da presidente do PL Mulher provocou irritação dentro da legenda e atingiu diretamente o comando nacional. Fontes ouvidas pela coluna Malu Gaspar, do jornal O Globo, relataram que Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, sentiu-se alvejado pela manifestação, interpretada como uma afronta às decisões da direção.
A reação interna foi imediata. Michelle foi convocada para uma reunião com a cúpula do partido para ser, nas palavras de dirigentes ouvidos pela coluna, “enquadrada”. Um integrante da direção afirmou que ela “não entende que é uma funcionária do partido e do Valdemar”, e que nem o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro adota esse tom. Nos bastidores, porém, aliados admitem que não há expectativa de retratação, avaliando que a ex-primeira-dama está “incontrolável”.
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O mal-estar ganhou novos contornos após o senador Flávio Bolsonaro criticar a madrasta à coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, expondo a divisão interna. Ele afirmou que Michelle “atropelou o próprio presidente Bolsonaro”. Disse, ainda, que a madrasta é “autoritária”. Flávio deve discutir o impasse com o pai durante visita à prisão, na tentativa de conter o desgaste crescente dentro da sigla.
A crise também respingou em Fernandes, que reforçou que a articulação com Ciro Gomes foi avalizada por Jair Bolsonaro e pelo presidente do PL. Ele lembrou que o ex-presidente participou de uma ligação, em 29 de maio, em que o apoio teria sido acertado. “A esposa do ex-presidente Bolsonaro vem aqui e diz que fizemos a movimentação errada”, reclamou o deputado. A aliança no Ceará busca também viabilizar a candidatura ao Senado do pastor Alcides Fernandes, pai do parlamentar.
Michelle já havia sinalizado internamente ser contrária ao acordo e chegou a sugerir isso em vídeo nas redes sociais. A disputa local ocorre em meio à mudança de Ciro para o PSDB e sua provável candidatura contra o governador Elmano de Freitas (PT). Para setores do bolsonarismo, apoiá-lo seria uma estratégia para enfraquecer o PT no estado. Como também O Globo, a atuação de Michelle tem impactado arranjos não só no Ceará, mas em outros estados, como Santa Catarina e o Distrito Federal, ampliando a tensão dentro do partido.









