CNH sem autoescola: entenda nova proposta do governo

O governo federal divulgou um modelo de obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) sem a obrigatoriedade de frequentar autoescolas, em uma minuta de resolução apresentada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e colocada em consulta pública pelo Ministério dos Transportes.

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A medida tem como objetivo reduzir custos e burocracias no processo de formação de novos condutores. Segundo estimativas oficiais, o valor total para obter a habilitação poderá cair em até 80%, já que o candidato passará a pagar apenas pelas taxas administrativas e pelos exames exigidos.

Como vai funcionar o novo processo

1. Solicitação digital

Todo o processo começará de forma digital, por meio dos órgãos estaduais de trânsito (como os Detrans). O candidato fará sua inscrição e acompanhará as etapas pela internet.

2. Curso teórico com três opções

O curso teórico continuará obrigatório, mas não será mais exigido que seja feito em uma autoescola. O candidato poderá escolher entre três formatos:

  • Curso on-line gratuito oferecido pelo governo;
  • Curso teórico presencial ou remoto por meio de autoescolas, caso o candidato prefira;
  • Curso oferecido por centros de formação públicos sob gestão estadual.

Assim, quem optar por estudar de forma independente ou digital poderá fazê-lo sem depender de instituições privadas.

3. Exames médicos e psicotécnico

As exigências dos exames médicos, teste psicológico (psicotécnico) e de aptidão física continuarão valendo normalmente. Esses exames serão realizados em clínicas credenciadas e seguirão os mesmos padrões atuais.

As taxas desses procedimentos são de responsabilidade dos Detrans estaduais e não sofrerão alterações imediatas.

4. Prova teórica

A prova teórica manterá o formato tradicional: até 30 questões de múltipla escolha, com exigência mínima de 70% de acertos.

Uma das principais novidades é que o exame poderá ser feito a distância, sob monitoramento digital, o que amplia a acessibilidade e reduz deslocamentos.

5. Treinamento prático e exame de direção

Após a aprovação na teoria, o candidato poderá escolher se deseja ou não fazer aulas práticas antes do exame de direção.

Quem se sentir preparado poderá ir diretamente para a prova prática, sem precisar passar por aulas obrigatórias de direção.

Outro ponto de destaque é que o carro usado na prova não precisará mais ser de uma autoescola. O candidato poderá utilizar veículo próprio ou de terceiros, desde que o automóvel cumpra requisitos de segurança e identificação exigidos pela autoridade de trânsito.

Além disso, não será mais obrigatório o uso de carro com duplo comando (pedais extras para o instrutor). Será permitido também o uso de veículos automáticos ou manuais.

Implementação e validade

A proposta da CNH sem autoescola não depende de aprovação do Congresso Nacional, pois se trata de uma resolução administrativa do Contran, já autorizada pelo presidente Lula.

Proposta em estudo pelo Governo Federal desobriga autoescola para obter CNH - Foto: Divulgação/Agência Brasilia
Proposta em estudo pelo Governo Federal desobriga autoescola para obter CNH – Foto: Divulgação/Agência Brasilia

O texto está em consulta pública até 2 de novembro de 2025, período no qual cidadãos, empresas e entidades do setor podem enviar sugestões e críticas.

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Reações e polêmicas

Setor de autoescolas

Sindicatos e associações que representam autoescolas reagiram com preocupação. Para essas entidades, a mudança pode gerar desemprego em massa e comprometer a qualidade da formação de condutores.

Elas argumentam que o custo atual dos cursos não é tão elevado quanto se divulga e que a retirada da obrigatoriedade ameaça milhares de empregos e negócios em todo o país.

Fiscalização e segurança no trânsito

Especialistas em trânsito também levantam dúvidas sobre a eficiência da fiscalização e o controle de qualidade do novo modelo.

Sem o acompanhamento presencial de instrutores, teme-se que candidatos cheguem menos preparados às provas práticas, o que poderia afetar a segurança nas vias.

Outro desafio será garantir monitoramento seguro e antifraude nas aulas e provas teóricas realizadas de forma remota. O governo precisará investir em sistemas tecnológicos capazes de verificar a identidade do candidato e evitar irregularidades.

O que muda e o que permanece

Permanece:

  • Exames médicos, psicológicos e de aptidão física obrigatórios;
  • Conteúdo da prova teórica e exigência mínima de acertos;
  • Prova prática de direção como etapa obrigatória;
  • Idade mínima e requisitos básicos para se habilitar;
  • Cobrança de taxas estaduais pelos Detrans.

Muda:

  • Fim da obrigatoriedade de frequentar autoescola;
  • Opção por curso teórico on-line ou gratuito;
  • Uso de veículo próprio no exame prático;
  • Fim da exigência de carro com duplo comando;
  • Possibilidade de ir direto à prova prática, sem aulas prévias de direção.

Impactos esperados

A proposta deve reduzir significativamente os custos para tirar a CNH, tornando o processo mais acessível para pessoas de baixa renda e ampliando a democratização do acesso à habilitação.

Por outro lado, o modelo pode levar a uma reconfiguração no mercado de autoescolas, que precisará se adaptar oferecendo novos serviços, como cursos opcionais, aulas práticas avulsas e consultoria para candidatos independentes.

Desafios e próximos passos

O governo aposta na modernização e simplificação do processo de habilitação, acreditando que a digitalização trará eficiência e inclusão.

Entretanto, ainda há questões técnicas e operacionais a resolver — como o controle remoto das avaliações, a qualificação dos examinadores e a segurança dos dados.

A decisão final dependerá do resultado da consulta pública. Caso seja aprovada sem grandes alterações, a CNH sem autoescola poderá começar a valer em todo o país ainda no primeiro semestre de 2026.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

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