Bolsonaro acusa investigação de “motivação política” e se diz humilhado após uso de tornozeleira

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) classificou como uma ação política a investigação da Polícia Federal que resultou em uma nova operação contra ele nesta sexta-feira (18), culminando na imposição de uma série de medidas restritivas determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Entre as medidas, Bolsonaro teve que colocar tornozeleira eletrônica e está proibido de se aproximar de embaixadas.

LEIA TAMBÉM: Jair Bolsonaro é alvo de operação da PF e passará a usar tornozeleira eletrônica

Em entrevista concedida logo após a colocação do dispositivo, o ex-presidente negou veementemente que estivesse planejando deixar o país, contrariando especulações.

“Nunca pensei em sair do Brasil ou ir para embaixada”, afirmou, demonstrando desconforto com as restrições. Bolsonaro ainda disse que as medidas representam uma humilhação pessoal.

Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro terá que cumprir outras limitações rigorosas: está proibido de sair de casa entre 19h e 7h, inclusive nos finais de semana; não poderá se comunicar com outros investigados; está impedido de manter contato com diplomatas e de utilizar redes sociais.

O ministro Alexandre de Moraes sustenta que Bolsonaro, junto com seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), tentou interferir em processos judiciais, além de realizar declarações públicas nas quais associava sua eventual anistia à suspensão das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil.

Bolsonaro está proibido de sair de casa à noite, se comunicar com investigados, manter contato com diplomatas e usar redes sociais - Foto: Reprodução/GloboNews
Bolsonaro está proibido de sair de casa à noite, se comunicar com investigados, manter contato com diplomatas e usar redes sociais – Foto: Reprodução/GloboNews

Durante a operação de busca e apreensão realizada na residência de Bolsonaro, em Brasília, a Polícia Federal apreendeu aproximadamente US$ 14 mil e R$ 8 mil em espécie, além de um pendrive encontrado escondido no banheiro. O ex-presidente confirmou a apreensão do dinheiro e afirmou possuir recibo emitido pelo Banco do Brasil que comprova a origem dos valores. O material apreendido será submetido à perícia da polícia científica.

Embora portar dinheiro em espécie não seja ilegal, a legislação exige que valores superiores a US$ 10 mil sejam declarados à Receita Federal ao atravessar as fronteiras brasileiras, fato que está sob investigação. O inquérito apura possíveis crimes como coação no curso do processo, obstrução da Justiça e ameaça à soberania nacional.

A defesa de Bolsonaro declarou que recebeu as medidas impostas com surpresa e indignação, ressaltando que o ex-presidente sempre cumpriu as determinações judiciais. Reações contrárias também vieram de seus aliados: o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro acusaram o ministro Alexandre de Moraes de abuso e de conduzir uma perseguição movida por ódio político

O desenrolar do caso promete manter acesa a polarização política no país, enquanto a Justiça segue apurando os fatos e Bolsonaro mantém firme sua defesa diante das novas restrições.

Alexandre de Moraes detalha suposta extorsão e atentado à soberania nacional

o ministro Alexandre de Moraes, responsável pela decisão que impôs as medidas restritivas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e autorizou a operação de busca e apreensão, realizada nesta sexta-feira (18), apontou que Bolsonaro confessou uma tentativa de extorsão contra a Justiça brasileira ao condicionar o fim do “tarifaço” imposto pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à sua própria anistia.

Em 9 de julho, Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras, justificando a medida com críticas à “caça às bruxas” que Bolsonaro sofreria no Brasil e atacando diretamente o Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro em entrevista no dia 17: “A anistia é algo privativo do parlamento. Não tem que ninguém ficar ameaçando tornar inconstitucional.” – Foto: Reprodução/Agência Brasil

Após essa decisão, Bolsonaro iniciou uma série de manifestações públicas nas quais associava a retirada dessas tarifas à concessão da anistia para si mesmo. No domingo (13), declarou que não se alegrava com o “tarifaço” e que com a anistia haveria “paz para a economia”.

No dia 17, afirmou em entrevista: “Vamos supor que Trump queira anistia. É muito? É muito, se ele pedir isso aí? A anistia é algo privativo do parlamento. Não tem que ninguém ficar ameaçando tornar inconstitucional.”

Segundo o ministro Moraes, essas declarações e atos configuram crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação envolvendo organização criminosa e atentado à soberania nacional.

Em sua decisão, Moraes afirmou que:

“a conduta do réu Jair Messias Bolsonaro […] é tão grave e despudorada que, na data de hoje (17/7/2025), em entrevista coletiva, sem qualquer respeito à soberania nacional do povo brasileiro, à Constituição Federal e à independência do Poder Judiciário, expressamente, confessou sua consciente e voluntária atuação criminosa na extorsão que se pretende contra a Justiça brasileira, condicionando o fim da ‘taxação/sanção’ à sua própria anistia.”

Ministro Alexandre de Moraes, do STF - Foto: Reprodução/Agência Brasil
Ministro Alexandre de Moraes, do STF – Foto: Reprodução/Agência Brasil

O ministro também ressaltou que a intenção criminosa de Bolsonaro é patente e escancarada e que as ações do ex-presidente se intensificaram após, no dia 14 de julho, a Procuradoria-Geral da República (PGR) entregar as alegações finais e pedir sua condenação no inquérito que investiga a tentativa de golpe contra o STF.

Além disso, Moraes apontou que Bolsonaro estimulou o governo dos Estados Unidos a atuar contra autoridades brasileiras como parte de uma estratégia para pressionar o Supremo e obstruir o inquérito do golpe.

Para o magistrado, Bolsonaro, em conjunto com seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que atualmente está nos Estados Unidos, cometeram atentados à soberania nacional com o objetivo de interferir em processos judiciais, desestabilizar a economia brasileira e pressionar o Poder Judiciário, especialmente o STF.

PGR apontou risco de fuga e defendeu urgência nas medidas contra Bolsonaro

A Procuradoria-Geral da República (PGR) destacou, em manifestação enviada ao STF, que havia uma “concreta possibilidade de fuga” de Bolsonaro. Para o órgão, esse risco tornava as medidas cautelares uma “necessidade urgente e indeclinável”, a fim de garantir o andamento do processo e a aplicação da lei.

O pedido da PGR foi acatado integralmente pelo ministro Alexandre de Moraes, que determinou, entre outras medidas, o uso de tornozeleira eletrônica por parte do ex-presidente.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *