O ex-presidente Jair Bolsonaro fez um apelo urgente aos Três Poderes, pedindo que o Brasil aceite as condições impostas pelos Estados Unidos para tentar evitar o que chamou de “tarifaço histórico”. A declaração ocorre após o ex-presidente americano Donald Trump anunciar a intenção de aplicar tarifas de até 50% sobre produtos vindos do Brasil e de outros países do BRICS.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, Bolsonaro defendeu que o país busque “uma solução diplomática imediata” e negocie com os EUA antes que as novas tarifas comecem a valer, o que poderia impactar diretamente o agronegócio, a indústria e o comércio exterior.
Encontro entre os então presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, realizado em 2019, marcou a aproximação entre Brasil e Estados Unidos. Foto: Reuters
O que está em jogo com as tarifas ?
O movimento de Trump, interpretado como uma reação geopolítica contra a aproximação entre Brasil, China e Rússia, foi recebido com preocupação no Itamaraty e nos setores produtivos. As tarifas anunciadas podem atingir uma ampla gama de produtos brasileiros, como aço, carne bovina, suco de laranja, celulose, etanol e até bens industriais.
De acordo com dados do Ministério da Economia, os Estados Unidos representam o segundo principal destino das exportações brasileiras, com mais de US$ 37 bilhões em negócios no acumulado de 2024. A taxação desses produtos pode causar perda de competitividade e fechamento de postos de trabalho no Brasil, além de provocar impactos em toda a cadeia de produção.
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Dólar sobe e Ibovespa sente o impacto
As tensões comerciais afetaram os mercados na quinta-feira. O dólar comercial encerrou o dia cotado a R$ 5,53, com alta de 0,36%, enquanto o dólar futuro para agosto avançou para R$ 5,56, indicando expectativa de mais volatilidade à frente.
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, caiu 0,29%, fechando em 138.893 pontos. Setores exportadores, como papel e celulose, proteína animal e siderurgia, lideraram as perdas, refletindo o temor de que as tarifas reduzam o volume de exportações.
Silêncio do governo aumenta incertezas
Até o momento, o Palácio do Planalto não emitiu uma nota oficial sobre o apelo de Bolsonaro ou sobre o conteúdo da carta divulgada por Trump em sua rede social, aTruth Social. Internamente, integrantes do Ministério das Relações Exteriores e da Fazenda analisam possíveis caminhos diplomáticos e avaliam o risco de perda de competitividade em produtos estratégicos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem defendido uma postura de cautela. Já o Itamaraty busca preservar o diálogo institucional com a Casa Branca e evitar que a retórica eleitoral de Trump contamine de forma prematura as relações bilaterais.
O apelo de Bolsonaro gerou reações no Congresso. Aliados do ex-presidente querem pressionar o governo Lula a negociar imediatamente com os EUA, enquanto líderes da base governista criticam a tentativa de Bolsonaro de “politizar uma questão comercial grave”.
Nos bastidores, fontes do Congresso afirmam que parte da oposição vê na crise uma oportunidade para desgastar a atual gestão econômica, especialmente diante da valorização do dólar, do aumento de preços de insumos e da percepção de instabilidade comercial.
Quais os caminhos a seguir e possíveis riscos
Especialistas em comércio exterior alertam que, se confirmadas, as tarifas de 50% prometidas por Trump podem ter efeito devastador sobre as exportações brasileiras. A perda de mercados internacionais, combinada com a valorização do dólar, pode gerar inflação interna, enfraquecer o consumo e desestimular o investimento.
Entre as possíveis alternativas estão:
Negociar acordos bilaterais emergenciais com os EUA para garantir isenções específicas;
Buscar apoio da Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar as tarifas;
Redirecionar exportações para outros mercados, como Europa e Ásia, embora com impacto limitado a curto prazo.
O apelo de Bolsonaro traz à tona um cenário que já vinha se desenhando: o Brasil pode se tornar alvo de tensões comerciais globais em função de suas alianças geopolíticas e de sua competitividade no agronegócio. A postura do governo nas próximas semanas será decisiva para definir se o país conseguirá evitar um revés econômico mais profundo.
Enquanto o Planalto avalia suas opções, o mercado responde com cautela, e os brasileiros sentem no bolso os primeiros reflexos de uma crise comercial que pode se agravar rapidamente.