Em um encontro marcado por sorrisos e punhos erguidos, Donald Trump e Xi Jinping anunciaram uma trégua comercial de um ano entre Estados Unidos e China. O presidente americano celebrou o acordo como uma vitória diplomática, mas especialistas apontam que foi a China quem saiu fortalecida, ao garantir concessões estratégicas sem abrir mão de sua posição dominante em setores-chave da economia global.
LEIA TAMBÉM: Câmara dos Deputados aprova projeto que revisa gastos e regula atualização de bens
O encontro entre os líderes ocorreu à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em Busan, no dia 30 de outubro de 2025. O acordo suspende tarifas e restrições que vinham elevando a tensão entre as duas maiores economias do mundo. Entre os principais pontos:
- Redução das tarifas dos EUA sobre produtos chineses de 57% para 47%
- Suspensão de taxas portuárias sobre navios chineses
- Adiantamento de controles de exportação que limitariam o acesso de empresas chinesas à tecnologia americana
- Retomada da compra de soja americana pela China
- Compromisso chinês de combater o tráfico de fentanil
Embora Trump tenha declarado que “foi uma reunião incrível” e elogiado Xi como “um líder extraordinário”, analistas veem o resultado como uma demonstração da habilidade diplomática chinesa.
Terras-raras: o trunfo de Pequim
Um dos pontos centrais do acordo envolve as chamadas terras-raras, minerais essenciais para a produção de eletrônicos, baterias e armamentos. A China detém cerca de 60% da produção global desses elementos e vinha ameaçando restringir sua exportação como forma de pressão.
Segundo o analista político David Leonhardt, do New York Times, “Xi Jinping usou o monopólio das terras-raras como moeda de troca. Ao suspender temporariamente os controles de exportação, ele obteve concessões significativas sem comprometer sua vantagem estratégica”.
A retórica de Trump e a realidade do acordo
A postura de Trump após o encontro foi marcada por otimismo. Ele afirmou que “os Estados Unidos estão vencendo novamente” e que “a China está cooperando como nunca”. No entanto, especialistas apontam que o acordo não resolve divergências estruturais, como propriedade intelectual, espionagem industrial e subsídios estatais.
Para Bonnie Glaser, diretora do Indo-Pacific Program no German Marshall Fund, “Trump precisava de uma vitória simbólica para fortalecer sua imagem interna. Xi Jinping ofereceu isso, mas em troca garantiu avanços concretos para a China”.
Repercussões globais e impacto no Brasil
O acordo foi recebido com alívio pelos mercados, que temiam uma escalada na guerra comercial. No Brasil, a retomada da compra de soja pelos chineses foi vista como positiva, já que o país compete diretamente com os EUA nesse setor.
Segundo Micaela Santos, analista da G1, “o Brasil pode enfrentar queda na demanda chinesa por soja brasileira, já que os EUA voltam a ser fornecedores preferenciais. Por outro lado, a estabilidade comercial pode beneficiar exportações industriais”.
Ao sair da reunião, Xi Jinping não fez declarações triunfalistas. Sua postura discreta contrastou com a euforia de Trump. Mas os termos do acordo revelam uma estratégia clara: garantir acesso à tecnologia americana, manter o fluxo de insumos críticos e evitar sanções que poderiam prejudicar sua economia.
“Xi Jinping conseguiu o que queria sem parecer agressivo. Ele ofereceu gestos simbólicos e colheu ganhos reais”, resume Andrew Caballero-Reynolds, correspondente da AFP










