Um vídeo divulgado por William Pulte, presidente do Conselho da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA (FHFA), reacendeu uma polêmica envolvendo a diretora do Federal Reserve, Lisa Cook. A gravação sugere que Cook teria declarado falsamente uma residência como sendo sua principal moradia, enquanto o imóvel estaria alugado para terceiros.
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A gravação que abalou o Fed
O vídeo foi publicado na rede social X (antigo Twitter) e mostra o jornalista investigativo Charlie LeDuff diante de uma casa em Atlanta, supostamente registrada como residência principal de Lisa Cook. Ao bater na porta, LeDuff conversa com um homem que afirma ser apenas locatário do imóvel. “Sou inquilino, não conheço Lisa Cook”, diz ele, sem abrir a porta.
William Pulte, que compartilhou o vídeo com comentários incisivos, questiona: “Cook recentemente afirmou ao governo dos EUA que se tratava de sua residência pessoal, mas ela está alugando o imóvel?” A publicação viralizou rapidamente, ultrapassando 4 milhões de visualizações em menos de 24 horas.
Implicações legais e reação política
A denúncia surge em meio a uma disputa institucional entre o governo Trump e o Federal Reserve. No final de agosto, o presidente Donald Trump anunciou a demissão de Lisa Cook, alegando “quebra de confiança institucional” e “conduta incompatível com o cargo”.
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Cook, nomeada originalmente em 2022 e reconduzida em 2024, entrou com uma ação judicial alegando que sua remoção viola a Lei do Federal Reserve, que exige justa causa para destituir membros do Conselho.
Segundo registros públicos de 2025, Cook possui duas propriedades em Atlanta. Uma delas foi declarada como residência principal em documentos de conformidade exigidos pelo Fed. No entanto, registros de aluguel e depoimentos indicam que o imóvel estaria ocupado por terceiros desde 2023.
A legislação federal exige que diretores de agências reguladoras declarem com precisão sua residência principal, especialmente em casos que envolvem benefícios fiscais, deduções ou requisitos de presença física. Se comprovada a falsidade ideológica, Cook pode enfrentar sanções administrativas e até criminais.
Robert Hockett, professor de Direito Financeiro na Cornell University, afirma: “Se confirmado, trata-se de uma infração grave, pois diretores do Fed devem manter padrões éticos elevados.”
Já Peter Conti-Brown, especialista em governança do Fed na Wharton School, acrescenta: “A independência do banco central está sendo testada. O caso Cook pode abrir precedentes perigosos.”
Além disso, para justificar a remoção de um diretor do Federal Reserve, é necessário comprovar “causa justificada“ conforme previsto na Lei do Federal Reserve de 1913, o que é juridicamente complexo.
Próximos passos
O Departamento de Ética Governamental dos EUA abriu investigação preliminar. O Congresso deve convocar audiências nas próximas semanas para ouvir Cook, Pulte e outros envolvidos. A Comissão de Supervisão da Câmara já sinalizou que pretende incluir o caso na pauta de setembro.
Enquanto isso, o Federal Reserve enfrenta pressão para esclarecer o episódio e preservar sua credibilidade. A presidência de Jerome Powell, que termina em janeiro de 2026, também está sob escrutínio, com parlamentares questionando a supervisão interna do banco.
O caso reacende debates sobre transparência, ética e politização das instituições financeiras. Em meio a uma economia que ainda se recupera dos choques inflacionários de 2023 e 2024, a estabilidade institucional do Fed é vista como essencial para manter a confiança dos mercados.