Venezuela reage com repúdio à ameaça de Trump sobre espaço aéreo

O governo da Venezuela repudiou neste sábado (29) a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que afirmou em rede social que o espaço aéreo venezuelano estaria “totalmente fechado”. A medida foi considerada por Caracas como uma “nova agressão colonialista” e reacendeu o debate sobre soberania e segurança na América Latina.

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Trump publicou em sua plataforma Truth Social: “A todas as companhias aéreas, pilotos, traficantes de drogas e traficantes de pessoas, considerem o espaço aéreo acima e ao redor da Venezuela totalmente fechado”. A mensagem, sem detalhes adicionais, coincidiu com movimentações militares norte-americanas no Caribe e com ameaças recentes de operações terrestres contra o governo de Nicolás Maduro.

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela respondeu horas depois, afirmando que a medida representa uma “extravagante, ilegal e injustificada agressão contra o povo venezuelano”. Maduro classificou a iniciativa como parte de uma “ameaça imperial” e anunciou mobilização militar interna.

Escalada militar na região

Desde novembro, os EUA deslocaram navios de guerra, caças F-35 e o porta-aviões USS Gerald R. Ford para a América Latina, dentro da operação “Lança do Sul”, que já realizou 22 ataques contra embarcações suspeitas de tráfico de drogas no Caribe e Pacífico.

Embora Washington alegue combate ao “narcoterrorismo”, não apresentou provas concretas que vinculem as embarcações ao cartel de Los Soles, grupo que os EUA classificaram como organização terrorista e que apontam como liderado por Maduro.

Para o professor Oliver Stuenkel, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a declaração de Trump “abre um precedente perigoso de extraterritorialidade, em que os EUA tentam impor sua jurisdição sobre o espaço aéreo de outro país soberano”. Ele alerta que a medida pode gerar “um efeito dominó de instabilidade” em países vizinhos.

Repercussão internacional

Governos latino-americanos reagiram com cautela. O México e a Colômbia pediram respeito à soberania venezuelana, enquanto o Brasil, por meio do Itamaraty, declarou estar “monitorando a situação com preocupação”. A União Europeia também se manifestou, defendendo “soluções diplomáticas” e condenando “qualquer tentativa de intervenção unilateral”.

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Segundo Michael Shifter, ex-presidente do Diálogo Interamericano, “a comunidade internacional está dividida: alguns países veem Maduro como um ditador ligado ao narcotráfico, outros enxergam a ofensiva dos EUA como uma violação clara do direito internacional”.

Além da tensão política, a medida pode afetar diretamente o setor aéreo. Companhias internacionais já avaliam rotas alternativas para evitar sobrevoar o espaço venezuelano. O economista Francisco Rodríguez, ex-assessor do Banco Central da Venezuela, explica que “qualquer restrição aérea amplia o isolamento do país, encarece o transporte de mercadorias e agrava a crise econômica interna”.

Maduro promete resistência

Em discurso transmitido pela TV estatal, Maduro convocou a população à “defesa patriótica” e afirmou que “a Venezuela não se renderá diante de ameaças imperialistas”. O presidente também anunciou exercícios militares em larga escala, incluindo simulações de guerra na selva e defesa aérea.

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