Trump intensifica ofensiva contra cartéis e promete “erradicação total”

O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, declarou nesta quinta-feira (23) que seu governo não vai recuar até “erradicar completamente” a ameaça representada pelos cartéis de drogas. A afirmação foi feita durante coletiva na Casa Branca, em meio à escalada de operações militares na América Latina, que já resultaram em dez ataques a embarcações ligadas ao narcotráfico.

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“Os cartéis estão travando uma guerra contra os Estados Unidos e, como prometi na campanha, estamos travando uma guerra contra eles como nunca antes”, disse Trump. “Governos anteriores tentaram mitigar essa ameaça. Nosso objetivo é eliminá-la. Não estamos mitigando, estamos eliminando”.

O presidente também comparou os cartéis ao Estado Islâmico, afirmando quedevem ser tratados como organizações terroristas transnacionais. Segundo ele, a nova fase da operação, batizada informalmente de “Martelo do Caribe”, envolve forças navais, drones e inteligência artificial para rastrear rotas de tráfico entre Venezuela, Colômbia e México.

Operações militares e impacto regional

Nesta sexta-feira (24), o Pentágono confirmou o décimo ataque a uma embarcação suspeita de transportar drogas, desta vez próximo à costa da Venezuela. O navio, supostamente ligado ao cartel Tren de Aragua, foi alvejado por um drone MQ-9 Reaper. Todos os seis tripulantes morreram.

O secretário de Guerra dos EUA, Mark Esper, declarou que os cartéis serão tratados como a Al-Qaeda. Não há espaço para negociação. A ofensiva tem gerado tensão diplomática com governos latino-americanos, especialmente Venezuela e México, que acusam Washington de violar soberania territorial.

Para a professora Shannon O’Neil, especialista em América Latina no Council on Foreign Relations (CFR), a militarização da luta contra os cartéis pode gerar instabilidade regional e prejudicar acordos bilaterais de cooperação. Segundo ela, “o uso de força letal fora do território americano levanta questões legais e éticas que precisam ser debatidas no Congresso”.

Já o analista de segurança Robert Muggah, cofundador do Instituto Igarapé, afirma quea retórica de guerra total contra os cartéis ignora as raízes sociais e econômicas do narcotráfico. Ele alerta que sem políticas de prevenção e desenvolvimento, a repressão tende a deslocar o problema, não resolvê-lo”.

Reações internacionais e latino-americanas

O governo mexicano, por meio da chancelaria, emitiu nota exigindo explicações sobre a operação militar e reiterou que ações unilaterais em território latino-americano são inaceitáveis. A Colômbia, por sua vez, pediu reunião extraordinária da Organização dos Estados Americanos (OEA) para discutir os impactos da ofensiva.

Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro afirmou queTrump está tentando provocar uma guerra regional para desviar atenção dos problemas internos dos EUA. Segundo reportagem do The New York Times, Maduro teria oferecido concessões econômicas a empresas americanas em troca de uma trégua política, mas Trump rejeitou a proposta.

A nova doutrina de segurança nacional dos EUA, divulgada em setembro, classifica os cartéis como “ameaça prioritária” ao país, ao lado de grupos extremistas e redes de tráfico humano. Estima-se que os cartéis movimentem mais de US$ 300 bilhões por ano, com ramificações em mais de 40 países.

Segundo dados da Drug Enforcement Administration (DEA), o número de overdoses por fentanil (droga sintética amplamente distribuída por cartéis mexicanos) aumentou 18% em 2025, totalizando mais de 80 mil mortes nos EUA.

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