PIB da Argentina cai 0,1% no segundo trimestre de 2025

A economia da Argentina registrou uma leve retração de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de 2025, em relação ao trimestre anterior. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC) em seu relatório trimestral publicado em 18 de setembro de 2025. Apesar da queda pontual, o país acumula crescimento de 6,1% no primeiro semestre e 6,3% na comparação anual.

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Sinais de desaceleração após ajuste fiscal

A contração marca o primeiro desempenho negativo do PIB argentino após três trimestres consecutivos de alta. Segundo o INDEC, o recuo foi puxado pela queda no consumo privado (-1,1%), nas exportações (-2,2%) e na formação bruta de capital fixo (-0,5%). O consumo público, por outro lado, teve leve alta de 1,1%.

Para o economista Alan Ghani, professor da FGV, “a economia argentina está em transição. O governo Milei conseguiu reduzir a inflação, mas o custo foi uma desaceleração do consumo e do crédito. É um ajuste necessário, mas doloroso”.

Desempenho dos setores

Dos 16 setores analisados pelo INDEC, 12 apresentaram crescimento na comparação anual. Os destaques positivos foram intermediação financeira (+26,7%), hotéis e restaurantes (+17%) e construção civil (+10,6%). Já o setor de pesca sofreu a maior retração, com queda de 42,2%, impactado por uma paralisação sindical durante a temporada de camarão.

A economista Marina Dal Poggetto, diretora da consultoria EcoGo, alerta: “O crescimento anual de 6,3% é expressivo, mas esconde fragilidades. A base de comparação de 2024 era muito baixa, e o consumo das famílias ainda está pressionado pela perda de poder aquisitivo”.

Apesar da queda pontual, o PIB argentino acumula crescimento de 6,1% no primeiro semestre e 6,3% na comparação anual. Esse avanço, no entanto, é relativizado por analistas, que apontam que a base de comparação de 2024 era extremamente baixa. Naquele ano, o país enfrentou uma recessão de 1,7% e inflação superior a 117%.

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Inflação em queda

A inflação mensal foi reduzida para cerca de 2%, o que representa uma taxa anualizada de 26%, bem abaixo dos 117% registrados em 2024. O Banco Central argentino tem atuado para estabilizar o câmbio e conter a desvalorização do peso.

Segundo o analista político Carlos Pagni, colunista do jornal La Nación, “o governo Milei está cumprindo sua promessa de ajuste fiscal, mas ainda precisa mostrar que esse esforço se traduzirá em crescimento sustentável e inclusão social”.

O risco país ultrapassou 1.400 pontos, refletindo a desconfiança dos investidores. Segundo pesquisa da AtlasIntel em parceria com a Bloomberg, 54% dos argentinos desaprovam a gestão Milei. A crise econômica e denúncias envolvendo Karina Milei, irmã e assessora do presidente, têm impactado a percepção pública.

Javier e Karina Milei - Foto: Luis Robayo/AFP
Javier e Karina Milei – Foto: Luis Robayo/AFP

Com eleições legislativas marcadas para outubro, o governo enfrenta o desafio de manter a estabilidade macroeconômica sem comprometer o apoio popular. O ajuste fiscal trouxe ganhos na inflação, mas ainda não se traduziu em melhora perceptível na renda das famílias. A volatilidade cambial, os juros elevados e o baixo dinamismo do consumo seguem como entraves à retomada sustentada.

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