Nepal tem nova líder após manifestações e protestos na última semana.
A nova líder do Nepal, Sushila Karki, prometeu neste domingo (14) seguir as exigências dos manifestantes de “acabar com a corrupção”. A primeira-ministra interina assumiu o cargo na última terça-feira (9) após manifestações lideradas pela Geração Z, que derrubaram seu antecessor, KP Sharma Oli, e a elegeram por meio do aplicativo de comunicação gamer Discord.
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Sushila Karki, de 73 anos, ex-presidente do Supremo Tribunal nepalês, foi encarregada de restaurar a ordem no país. O Parlamento do Nepal foi dissolvido após os protestos, e as próximas eleições estão marcadas para 5 de março de 2026.
A revolta
Os protestos começaram no início da semana passada, liderados pela Geração Z, jovens entre 16 e 30 anos. A desigualdade social é um dos principais motivos de insatisfação: segundo o Banco Mundial, os 10% mais ricos ganham mais de três vezes a renda dos 40% mais pobres.
A situação econômica do país piorou nos últimos anos. O Nepal está na lista da ONU dos 44 países menos desenvolvidos e 22% dos jovens entre 15 e 24 anos estão desempregados.
Gaurav Nepune, um dos líderes do protesto, relatou que os jovens conduziam uma campanha online há três meses, expondo o contraste entre a vida da elite política e a das pessoas comuns. Usuários publicavam fotos de filhos de políticos ostentando luxo, enquanto jovens de famílias pobres precisavam deixar o país para sustentar parentes.
O bloqueio de redes sociais como Facebook, Instagram, YouTube e X pelo governo foi o estopim dos protestos.
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Consequências
As manifestações se concentraram contra o governo nepalês. Casas de autoridades foram atacadas e incendiadas, incluindo a do ex-primeiro-ministro que renunciou. A residência de Jhala Nath Khanal, outro ex-líder, também foi incendiada, e sua esposa sofreu ferimentos graves.
O aeroporto de Kathmandu foi fechado devido à fumaça dos incêndios, e civis foram fotografados com rifles de assalto nas ruas da capital. Soldados reduziram a presença nas ruas, mas mais de 12.500 prisioneiros que fugiram permanecem foragidos, gerando preocupações de segurança.
“Meu nome veio das ruas”
Após a renúncia de KP Sharma Oli, Sushila Karki foi indicada em uma votação informal realizada no Discord, plataforma usada por gamers. O gabinete da presidência confirmou a decisão na última sexta-feira (12).
Karki afirmou:
“Devemos trabalhar de acordo com o pensamento da Geração Z. O que eles exigem é o fim da corrupção, boa governança e igualdade econômica“.
Antes de iniciar reuniões no complexo governamental de Singha Durbar, incendiado durante os protestos, fez um minuto de silêncio pelas vítimas.
Ao menos 72 pessoas morreram e 191 ficaram feridas durante os protestos, segundo o secretário-chefe do governo, Eaknarayan Aryal. Esta foi a pior onda de protestos desde o fim da guerra civil em 2006 e a abolição da monarquia em 2008.
Karki declarou:
“A situação em que me encontro não era o que eu desejava. Meu nome foi trazido das ruas“.
Os líderes regionais, incluindo Índia e China, parabenizaram Karki. O primeiro-ministro indiano Narendra Modi declarou apoio à paz e prosperidade no Nepal, enquanto o Ministério das Relações Exteriores da China reafirmou interesse em fortalecer relações bilaterais.