Mais de mil crianças são intoxicadas por merenda escolar na Indonésia

Mais de mil crianças foram hospitalizadas esta semana na Indonésia após consumirem merendas escolares contaminadas, fornecidas pelo programa nacional de refeições gratuitas. Os casos ocorreram em quatro localidades da província de Java Ocidental e reacenderam críticas sobre a segurança alimentar e a supervisão sanitária do projeto, considerado uma das principais iniciativas do governo do presidente Prabowo Subianto.

LEIA TAMBÉM: Haddad anuncia criação de delegacia contra o crime organizado

Surtos em série e cozinhas suspensas

Segundo o governador de Java Ocidental, Dedi Mulyadi, os surtos mais recentes ocorreram entre os dias 22 e 24 de setembro, afetando mais de 1.050 estudantes em West Bandung e Sukabumi. “Precisamos avaliar quem está executando o programa… E o mais importante é como lidar com o trauma dos alunos depois de comerem a comida,” afirmou Mulyadi, destacando que hospitais locais ficaram lotados com crianças apresentando sintomas como náuseas, vômitos e dores abdominais.

Confira “Filhos do Silêncio” de Andrea dos Santos  

A estudante Lisa Bila Zahara, de 15 anos, relatou à Reuters que passou mal após comer frango e tofu com molho de soja. “Cerca de 30 minutos depois, senti náuseas e dor de cabeça,” disse ela, enquanto recebia atendimento em um ginásio esportivo transformado em centro médico improvisado.

Em resposta, mais de 80 cozinhas escolares foram temporariamente suspensas, e o governo anunciou uma revisão completa dos processos de produção e distribuição das refeições.

Especialistas alertam para falhas estruturais

O programa de refeições gratuitas foi lançado em janeiro de 2025 com o objetivo de combater a desnutrição entre crianças e mulheres grávidas. Com um orçamento de 171 trilhões de rupias (cerca de US$ 10,2 bilhões), a meta é alimentar 83 milhões de pessoas até o fim do ano. No entanto, desde o início da iniciativa, ao menos 6.400 estudantes já apresentaram sintomas de intoxicação alimentar em diferentes regiões do país.

“O objetivo do programa é nobre, mas a segurança alimentar deve ser prioridade absoluta,” afirmou o Dr. Dadan Hindayana, chefe da Agência Nacional de Nutrição, que supervisiona o projeto. Ele garantiu que todas as cozinhas envolvidas nos surtos foram suspensas e que novas inspeções sanitárias estão em andamento.

Foto: reprodução / Reuters

A nutricionista infantil Dra. Siti Nurhaliza, da Universidade da Indonésia, também criticou a execução do programa: “A expansão rápida sem capacitação adequada das equipes e sem controle rigoroso de fornecedores é uma receita para o desastre. Crianças são mais vulneráveis a contaminações alimentares, e qualquer falha pode ter consequências graves.”

Impacto político e pressão pública

O presidente Prabowo Subianto ainda não se pronunciou diretamente sobre os casos mais recentes. Seu gabinete afirmou que está “avaliando os relatórios e comprometido com a segurança dos beneficiários.” A iniciativa, considerada uma das promessas de campanha mais ambiciosas, agora enfrenta pressão de ONGs e representantes da sociedade civil que pedem a suspensão imediata do programa até que medidas corretivas sejam implementadas.

“Estamos profundamente preocupados com a saúde das crianças e comprometidos em revisar todos os processos do programa,” declarou um porta-voz do governo à agência Xinhua.

Pais e educadores também se mostram apreensivos com a retomada das refeições nas escolas. “Meu filho ficou três dias internado. Não quero que ele coma mais nada da escola até que tudo seja esclarecido,” disse Rina Kartika, mãe de um aluno de 9 anos em Sukabumi.

O que vem a seguir?

O governo indonésio prometeu apresentar um plano de ação nos próximos dias, incluindo:

  • Reavaliação dos fornecedores contratados
  • Capacitação obrigatória para cozinheiros e equipes escolares
  • Inspeções sanitárias regulares em todas as cozinhas
  • Criação de um comitê independente para monitoramento da qualidade

Enquanto isso, escolas seguem com aulas suspensas ou com merendas substituídas por alimentos industrializados, enquanto milhares de famílias esperam por respostas e garantias de que seus filhos não serão novamente expostos a riscos.

Autor

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *