O governo dos Estados Unidos anunciou que estrangeiros que elogiem, minimizem ou façam piadas sobre o assassinato do ativista Charlie Kirk poderão ter vistos negados ou revogados. Christopher Landau, vice-secretário de Estado, afirmou em postagem no X que “quem glorifica violência e ódio não é bem-vindo” nos EUA e determinou que autoridades consulares ajam conforme esses casos surgirem.
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O que dizem as autoridades
De acordo com o comunicado, o Departamento de Estado orientou embaixadas e consulados a observarem publicações em redes sociais que tratem com ironia ou elogio à morte de Kirk, baleado no campus da Utah Valley University. Segundo Landau, mensagens desse tipo configuram indícios de ameaça à segurança nacional e poderão pesar na análise de vistos de turismo, estudo ou trabalho.

O vice-secretário também solicitou que cidadãos enviem prints de postagens com esse tipo de conteúdo, para que sejam adicionados aos relatórios de risco avaliados por oficiais consulares. Até o momento, o governo não informou quantos vistos já foram suspensos ou negados por esse critério.
Casos semelhantes em 2025
A medida não surge isolada. O governo norte-americano tem adotado postura mais rígida em relação ao discurso online de estrangeiros:
- Em julho, o secretário de Estado Marco Rubio revelou que mais de 300 vistos de estudantes foram revogados após protestos pró-palestinos em universidades.
- Em agosto, a doutoranda turca Rümeysa Öztürk perdeu seu visto depois de publicar um artigo crítico a políticas de segurança, gerando protestos de acadêmicos que alegaram violação de liberdade de expressão.
- Em março, o pesquisador Badar Khan Suri, visitante em Georgetown, foi detido sob acusação de promover propaganda de grupos extremistas, mas especialistas contestaram a base legal da medida.
Esses episódios reforçam o movimento de usar critérios políticos e de discurso para decisões migratórias, prática cada vez mais criticada por organizações de direitos civis.
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O que dizem os especialistas
Para Laura Murphy, professora de Direito e ex-diretora da ACLU, a decisão “abre espaço para arbitrariedade e pode conflitar com princípios da Primeira Emenda, ainda que aplicada a estrangeiros, pois sinaliza ao mundo que os EUA punem ideias, não apenas crimes”.
Segundo Harold Kensley, pesquisador do Migration Policy Institute, a dificuldade será estabelecer critérios objetivos: “O que é sátira para uns pode ser visto como glorificação para outros. Sem transparência, o risco é que diferentes consulados adotem padrões incoerentes.”
Já a psicóloga e especialista em comunicação Emily Stetson, da Universidade de Michigan, avalia que a política pode provocar um efeito “chilling”:
“Estrangeiros tenderão a se autocensurar, evitando expressar opiniões legítimas, acadêmicas ou críticas, com medo de perder seu status migratório.”
Impactos previstos
O anúncio deve trazer repercussões imediatas em diferentes áreas. Universidades norte-americanas, que dependem da presença de estudantes estrangeiros, temem queda nas inscrições para programas de pós-graduação. Um relatório recente da Association of American Universities já alertava para a “atmosfera de intimidação” que afeta pesquisadores internacionais após medidas migratórias ligadas a discurso político.
No plano diplomático, governos de países cujos cidadãos sejam afetados podem questionar formalmente a política. Em 2024, a Índia já havia criticado restrições semelhantes aplicadas a seus estudantes. Agora, analistas esperam que aliados europeus também se posicionem, visto que o caso Kirk tem grande repercussão nas redes sociais globais.
Nos tribunais, advogados de imigração preparam ações para contestar a medida. O jurista Michael Wildes, especialista em imigração em Nova York, disse ao Washington Post que “a revogação de vistos com base em opinião online é terreno juridicamente frágil e deve ser alvo de litígios nos próximos meses.”
Há ainda impacto no campo da tecnologia: diplomatas afirmaram que algoritmos de monitoramento e denúncias de usuários serão usados para rastrear postagens problemáticas, levantando preocupações sobre vigilância digital e privacidade.