Crise climática pode levar quase 160 milhões de mulheres à pobreza extrema

Relatório alerta para a urgência de medidas em relação a igualdade de gênero no mundo.

Segundo o relatório “Gender Snapshot 2025”, da ONU Mulheres e do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, o mundo está se afastando da igualdade de gênero e o custo está sendo contado em vidas, direitos e oportunidades. Divulgado nesta segunda-feira (15), o relatório baseia-se em mais de 100 fontes de dados para acompanhar o progresso em todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Segundo o documento, a pobreza feminina mal mudou em meia década, presa em torno de 10% desde 2020. A maioria das mulheres nessas condições vive na África Subsaariana e na Ásia Central e Austral.

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Objetivos e metas

Sendo a principal fonte de dados do mundo sobre igualdade de gênero e a Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030, a edição de 2025 do Gender Snapshot mostra que, com cinco anos restantes para alcançar os ODS, o mundo está atualmente na trajetória de perder todos os indicadores sob o ODS5: Igualdade de Gênero.

Os ODS, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, são um conjunto de 17 metas globais estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015. Alguns de seus objetivos são: erradicar a pobreza, garantir a igualdade de gênero, fornecer educação de qualidade, entre outros. Também estão incluídas 169 metas específicas para guiar os governos.

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Os objetivos fazem parte de uma agenda chamada Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Os objetivos e as metas devem ser alcançados pelos países até o ano de 2030.

Referente ao ODS5, de Igualdade de Gênero, o relatório feito pela ONU Mulheres revela o atraso nesse objetivo em alguns pontos.

Dois lados de uma mesma moeda

Segundo o relatório Gender Snapshot 2025, se o pior cenário sobre as condições das mulheres for considerado, 158,3 milhões de mulheres e meninas poderão entrar para a faixa de pobreza extrema até 2050. Em outras palavras: vão viver com menos de US$ 2,15 por dia. Provavelmente a metade delas estarão na África Subsaariana, formada por mais de 40 países.

Um dos motivos desse cenário poder acontecer é as mudanças climáticas. Elas que ampliam a desigualdade e trazem enormes riscos para as populações já marginalizadas.

Além disso, segundo o relatório, 676 milhões de mulheres e meninas viviam ao alcance de um conflito mortal em 2024. Esse é o maior número alcançado desde a década de 1990. As consequências para essas mulheres em zonas de guerra vão além do deslocamento: estão envolvidas a insegurança alimentar, os riscos à saúde e a violência, que aumentam acentuadamente.

A violência contra as mulheres continua sendo uma das ameaças mais generalizadas. Mais de uma em cada oito mulheres em todo o mundo já sofreram violência física ou sexual nas mãos de um parceiro no ano passado, enquanto quase 1 em cada 5 jovens se casou antes dos 18 anos.

Por outro lado, o relatório mostrou o que é possível quando os países priorizam a igualdade de gênero. Alguns dos benefícios revelados no documento foram:

  • a mortalidade materna caiu quase 40% entre 2000 e 2023;
  • hoje, as meninas são mais propensas do que antes a terminar a escola;
  • a liderança das mulheres nas negociações climáticas quase dobrou;
  • nos últimos cinco anos, 99 leis novas ou reformuladas derrubaram a discriminação.

Segundo Sima Bahous, Diretora Executiva da ONU Mulheres, a tecnologia pode exercer um papel importante em mudanças benéficas às mulheres.

“Fechar a divisão digital de gênero por si só poderia beneficiar 343,5 milhões de mulheres e meninas em todo o mundo, tirar 30 milhões da pobreza até 2050 e gerar um aumento estimado de US$ 1,5 trilhão para o PIB global até 2030“.

Hoje, 70% dos homens estão online em comparação com 65% das mulheres. Fechar essa lacuna poderia trazer os benefícios citados por Sima às mulheres.

Escolha urgente – e definitiva

Apesar das vitórias conquistadas pelas mulheres nos últimos anos, ainda existem muitas desigualdades mascaradas no mundo. Na política, as mulheres detém apenas 27,2% dos assentos parlamentares e sua representação nos governos locais estagnou em 35,5%. Na gestão, as mulheres ocupam apenas 30% das funções e, nesse ritmo, a verdadeira paridade está a quase um século de distância.

O relatório Gender Snapshot 2025 deixa evidente a necessidade urgente de investir nas mulheres e meninas. Ancorado na Agenda de Ação Beijing+30, o relatório identifica seis áreas prioritárias onde é necessária uma ação urgente e acelerada para alcançar a igualdade de gênero para todas as mulheres e meninas até 2030.

As áreas são:

  • revolução digital;
  • liberdade da pobreza;
  • violência zero;
  • poder de decisão total e igualitário;
  • paz e segurança; e
  • justiça climática.

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