Um vídeo divulgado por agências internacionais nesta sexta-feira (10) mostra milhares de palestinos retornando ao norte da Faixa de Gaza após a entrada em vigor do cessar-fogo entre Israel e o grupo Hamas, firmado por meio de um plano de paz mediado pelos Estados Unidos, Egito, Catar e Turquia. O acordo foi ratificado na noite de quinta-feira (9) pelo governo israelense e entrou oficialmente em vigor às 6h (horário de Brasília) desta sexta.
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De acordo com o Exército de Israel, as tropas começaram a se reposicionar “ao longo das novas linhas de implantação” após o anúncio do cessar-fogo. Com o recuo, Israel agora ocupa cerca de 53% do território palestino, em comparação aos 75% que controlava antes do acordo. Entre as áreas desocupadas estão Khan Younis — uma das cidades mais atingidas pela guerra — e Cidade de Gaza, foco da mais recente ofensiva terrestre.
Tropas recuam, mas Netanyahu promete manter pressão
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que, mesmo com o cessar-fogo, as forças israelenses permanecerão em Gaza para garantir pressão sobre o Hamas. Segundo ele, as tropas estão “cercando o Hamas completamente” e se preparam para “as próximas etapas do plano”, que preveem o desarmamento do grupo e a desmilitarização de Gaza.
“Se isso puder ser alcançado da maneira fácil, muito bem. Se não, será alcançado da maneira difícil”, afirmou Netanyahu em pronunciamento nacional.
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), Effie Defrin, declarou que o Hamas foi derrotado em todos os pontos de confronto e pediu que os civis palestinos evitem entrar em áreas ainda controladas pelos militares israelenses para garantir “a segurança de todos e o cumprimento do acordo”.
Bombardeios mesmo após o cessar-fogo
Apesar do início da trégua, a agência Reuters registrou bombardeios na região central de Gaza cerca de uma hora após o cessar-fogo. Vídeos mostraram colunas de fumaça subindo no céu por volta das 7h (horário de Brasília). Não há registros confirmados de mortos ou feridos, e o governo israelense ainda não se manifestou sobre o episódio.
Enquanto isso, milhares de palestinos deslocados começaram a retornar para suas casas. Imagens de televisão mostram longas filas de pessoas caminhando por estradas costeiras, levando pertences e tentando recomeçar a vida após meses de conflito.
O plano de paz mediado por Trump
O plano de paz foi apresentado no fim de setembro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com mediação de Egito, Catar e Turquia. O texto prevê três principais pontos: o cessar-fogo, a libertação dos reféns e a redução gradual da presença militar israelense na Faixa de Gaza.
Libertação de reféns
Segundo Israel, o Hamas ainda mantém 48 reféns dos 251 sequestrados durante o ataque de 2023. Pelo acordo, o grupo tem até 72 horas para libertar todos — vivos ou mortos — a partir do início da trégua.

O governo israelense estima que apenas 20 dos 48 reféns ainda estejam vivos. Em contrapartida, Israel deve libertar cerca de 2 mil prisioneiros palestinos, incluindo alguns condenados à prisão perpétua.
O Hamas afirmou que precisa de mais tempo para localizar os corpos dos reféns mortos, alegando que “não sabe onde todos estão”. Para auxiliar nessas buscas, a Turquia anunciou a criação de uma força-tarefa internacional com autoridades estrangeiras.
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Até o momento, 28 dos 48 reféns foram confirmados como mortos, mas entre seis e sete corpos ainda estão desaparecidos, segundo a imprensa israelense.

Fim dos ataques e redução da ocupação
O acordo determina o fim dos bombardeios israelenses em Gaza e o recuo das tropas para novas linhas estabelecidas no mapa de cessar-fogo. Fontes das Forças de Defesa de Israel informaram à GloboNews que a ocupação será reduzida de 75% para 57% inicialmente, até chegar aos 53% confirmados nesta sexta.
O plano também prevê uma retirada gradual, com as tropas prontas para “retornar ao combate se necessário”.
Ratificação e cronograma
A votação no gabinete israelense foi uma etapa formal, como já havia ocorrido nos dois cessar-fogos anteriores — em novembro de 2023 e janeiro de 2025. Após a aprovação, o acordo foi assinado às 6h (horário de Brasília) desta quinta.
O presidente Donald Trump deve viajar a Israel nos próximos dias e foi convidado para discursar no Parlamento israelense. Em declaração à imprensa, Trump disse considerar visitar a Faixa de Gaza e chamou o tratado de “primeira fase da paz”.
Pontos ainda não esclarecidos
Mesmo com o anúncio oficial, vários detalhes do plano permanecem indefinidos. Ainda não se sabe se Israel e o Hamas aceitaram integralmente o texto da Casa Branca ou se houve alterações de última hora.
Não há também confirmação sobre como será feita a transição de governo na Faixa de Gaza, uma das propostas mais delicadas do plano americano. Tampouco foi definido se o Hamas entregará suas armas como parte do processo de desmilitarização.
Fontes ligadas ao gabinete de Netanyahu afirmam que os pontos mais sensíveis do tratado foram resolvidos, mas a implementação será gradual e supervisionada por observadores internacionais.
Retorno e reconstrução
Enquanto os líderes políticos negociam, o drama humanitário segue evidente. Famílias inteiras carregam pertences em carroças, bicicletas ou a pé, tentando voltar para cidades devastadas como Khan Younis e Cidade de Gaza.
“Queremos apenas reconstruir nossas casas e viver em paz”, disse um morador à agência Associated Press, enquanto caminhava pela estrada costeira.
A ONU estima que mais de 1,4 milhão de palestinos foram deslocados desde o início da guerra. Com o cessar-fogo, o desafio agora será reerguer um território arrasado, garantir o retorno seguro da população civil e manter a trégua em meio a tensões ainda latentes.
Em resumo:
- O cessar-fogo entre Israel e Hamas entrou em vigor nesta sexta (10);
- Tropas israelenses recuaram para ocupar 53% do território palestino;
- 48 reféns devem ser libertados em até 72 horas;
- Donald Trump mediou o acordo, com apoio de Egito, Catar e Turquia;
- Milhares de palestinos começaram a retornar às suas casas, mas bombardeios isolados ainda foram registrados.
O cessar-fogo marca um momento histórico na guerra de Gaza — uma trégua frágil, sustentada por promessas diplomáticas e pela esperança de um povo que tenta reconstruir a vida após anos de destruição.









