Família de Matthew Perry aponta médico como responsável e descreve dor do luto antes da sentença

Às vésperas da leitura da sentença do médico Salvador Plasencia, marcada para esta quarta-feira (3) em Los Angeles, a família de Matthew Perry (1969–2023) voltou a responsabilizar o profissional pela morte do ator. Perry, eternizado como Chandler Bing em “Friends”, morreu aos 54 anos após um afogamento acidental provocado pelos efeitos agudos da cetamina, substância que, segundo a investigação, era aplicada de forma irregular por uma rede de cinco envolvidos.

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Em cartas enviadas ao tribunal, Suzanne Perry e Keith Morrison, mãe e padrasto do ator, relataram a devastação emocional deixada pela perda do filho e acusaram Plasencia de explorar deliberadamente a vulnerabilidade do artista.

Em um dos trechos mais fortes da carta, o casal descreveu o luto como “um poço profundo, sem racionalidade possível”, afirmando que Matthew passou anos lutando contra a dependência química e tentando se reconstruir:

“Era uma vida entrelaçada à nossa, mantida às vezes com fita adesiva e arame. E então surgiram aqueles que se aproveitaram da fragilidade do nosso filho e tudo desabou.”

A família afirmou que Plasencia, que admitiu injetar cetamina sem indicação médica e vender frascos clandestinamente, “quebrou seus juramentos mais básicos”, encontrando Perry às escondidas e lucrando com a dependência do ator.

O pai de Matthew, John Perry, e a madrasta, Debby Perry, também enviaram uma carta ao tribunal. No documento, descrevem o ator como “um homem amoroso, que seria nosso apoio na velhice”, e condenam duramente a conduta do médico:

“A recuperação de Matthew dependia de você dizer NÃO. O que o motivou? Quantas vidas mais foram afetadas e nós não sabemos?”

A família pediu uma sentença “compatível com a gravidade do dano causado”.

Plasencia pode pegar até 40 anos de prisão federal. Outros acusados, incluindo a traficante Jasveen Sangha, o ex-assistente Kenneth Iwamasa, o intermediário Erik Fleming e o médico Mark Chavez, serão julgados entre dezembro e janeiro.

O ator Matthew Perry e o médico Salvador Plasencia - Foto: Reprodução/El País
O ator Matthew Perry e o médico Salvador Plasencia – Foto: Reprodução/El País

Matthew Perry: os últimos dias e a rede ilegal que fornecia cetamina ao ator

Além das cartas emocionadas, documentos judiciais e acordos de delação revelam um cenário ainda mais trágico: Matthew Perry passava por dias de intensa dor física e psicológica, dependente de grandes quantidades de cetamina aplicadas por pessoas que tinham conhecimento da sua fragilidade e histórico de abuso.

No dia de sua morte, em 28 de outubro de 2023, seu assistente, Kenneth Iwamasa, declarou ter aplicado três injeções de cetamina no ator, a primeira por volta das 8h30, a segunda cerca de quatro horas depois e a terceira pouco antes de sair para fazer tarefas externas. Ao retornar, encontrou o ator submerso e sem vida em uma banheira de hidromassagem.

Segundo o acordo de confissão, Perry insistia:

“Me dê uma injeção das grandes.”

A frequência assustava até mesmo os envolvidos: Iwamasa admitiu que, nos últimos dias, aplicava de seis a oito injeções por dia, às vezes encontrando o chefe inconsciente.

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Documentos mostram que, após médicos de uma clínica legal se recusarem a aumentar a dose, Matthew passou a buscar alternativas no submundo. Foi assim que Iwamasa encontrou Salvador Plasencia, que logo se tornou o principal fornecedor da droga.

Mensagens obtidas pela investigação revelam o desprezo do médico pelo estado do ator. Em um diálogo com o amigo Mark Chavez, Plasencia escreveu:

“Eu me pergunto quanto esse idiota vai pagar.”

Mark Chavez obteve pastilhas de cetamina por meio de uma receita fraudulenta - Foto: U.S. District Court for the Central District of California/The New York Times
Mark Chavez obteve pastilhas de cetamina por meio de uma receita fraudulenta – Foto: U.S. District Court for the Central District of California/The New York Times

Plasencia ensinou o assistente a aplicar as injeções e começou a realizar aplicações clandestinas no próprio carro do ator, em estacionamentos de Long Beach. Em um mês, Perry pagou aproximadamente 55 mil dólares pelo fornecimento ilegal.

A cadeia criminosa incluía ainda:

  • Erik Fleming, amigo de um conhecido de Perry, que intermediou a venda de frascos veterinários da substância.
  • Jasveen Sangha, chamada pelos promotores de “Rainha da Cetamina”, que fornecia frascos sem identificação e até pirulitos de cetamina como bônus.
  • Mark Chavez, responsável por obter pastilhas de cetamina com prescrições fraudulentas.

Em um único dia, segundo a polícia, Perry recebeu:

  • uma infusão legal de cetamina em uma clínica;
  • uma “dose grande” aplicada por Plasencia em sua casa;
  • e, no dia seguinte, mais 25 frascos entregues por Fleming.

As autoridades afirmam que todos os envolvidos sabiam do risco extremo ao qual expunham o ator. Em um dos episódios descritos, após uma dose administrada por Plasencia, Matthew congelou, não conseguia falar nem se mover, exigindo esforço para ser carregado até o sofá.

Mesmo assim, os fornecimentos continuaram.

Quando Matthew foi encontrado morto, quatro seringas e diversos frascos haviam sido usados naquele mesmo dia, segundo o assistente, todos vindos do lote entregue por Fleming.

Polícia afirmou ter encontrado 'empório de drogas' na casa de Jasveen Sangha - Foto: Divulgação/US District Court
Polícia afirmou ter encontrado ‘empório de drogas’ na casa de Jasveen Sangha – Foto: Divulgação/US District Court

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Conclusão do legista

O relatório do legista do Condado de Los Angeles, divulgado semanas depois, confirmou:

Matthew Perry morreu pelos “efeitos agudos” da cetamina.
A quantidade encontrada em seu sangue era equivalente à usada para anestesia geral.

Os documentos revelam um ator lutando contra a própria mente, tentando encontrar estabilidade emocional enquanto era explorado por pessoas que deveriam ajudá-lo, incluindo profissionais da área da saúde.

A família agora aguarda a sentença com a esperança de que ela represente, ainda que parcialmente, a justiça por uma trajetória que terminou de forma tão dolorosa.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

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