Em declaração durante evento do Banco Central na quarta-feira (13), o diretor de Política Monetária, Gabriel Galipolo, afirmou que a incerteza que tem impactado os mercados financeiros brasileiros deve diminuir progressivamente à medida que as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos à produtos brasileiros forem se consolidando e sendo melhor compreendidas pelos agentes econômicos. A fala ocorreu durante painel sobre estabilidade financeira e representa o primeiro posicionamento oficial do BC sobre os desdobramentos recentes da guerra comercial.
O Contexto das Declarações de Galipolo
Galipolo participava do “Seminário sobre Perspectivas Econômicas” quando foi questionado sobre os impactos das medidas protecionistas americanas na economia brasileira. O diretor, conhecido por sua postura técnica e ponderada, destacou que o período inicial de maior volatilidade tende a ceder lugar a um ambiente mais previsível conforme o mercado assimila as novas regras do jogo comercial.
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“Todo processo de implementação de medidas dessa magnitude gera naturalmente um ciclo de ajustes e aprendizado. Nossa avaliação é que a fase de maior instabilidade será seguida por um período de acomodação mais estável”, afirmou o diretor.
O diretor do Banco Central detalhou que a instituição tem acompanhado três canais principais de transmissão dos impactos das tarifas: o canal cambial, o canal de inflação e o canal de crescimento econômico. Segundo Galipolo, o BC já possui modelos que indicam que efeitos inflacionários serão contidos pela política monetária vigente, enquanto os impactos no crescimento devem ser parcialmente compensados por rotas alternativas de exportação. “Nossa política monetária restritiva fornece o necessário ancoramento para expectativas, evitando descontroles inflacionários mesmo em cenário de pressões cambiais”, explicou.
Questionado sobre prazos, Galipolo foi cauteloso mas indicou que o segundo semestre de 2025 deve trazer maior clareza sobre os reais impactos das medidas. “A partir do momento que tivermos dados concretos de um trimestre completo sob as novas condições, seremos capazes de ajustar nossas projeções com maior precisão. Hoje trabalhamos ainda com margens de erro mais amplas”, reconheceu. O diretor lembrou que o BC revisará suas projeções na próxima reunião do Copom, em setembro, quando deverá incorporar os primeiros dados completos do período pós-tarifas.
A fala de Galipolo é interpretada por analistas como uma tentativa de acalmar os ânimos dos investidores após semanas de volatilidade excessiva. Outros especialistas veem nas palavras do diretor um alinhamento tácito com o Ministério da Fazenda, que tem buscado minimizar os impactos das tarifas através de negociações bilaterais e diversificação de mercados.
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Galipolo adiantou que o Banco Central intensificará o monitoramento de setores específicos mais expostos às tarifas, como agronegócio, têxteis e calçados. “Temos equipes dedicadas a analisar em tempo real os fluxos comerciais e ajustes setoriais”, revelou. O diretor também destacou que o BC mantém canais abertos de comunicação com o Fed para troca de informações sobre os desdobramentos macroeconômicos das medidas restritivas.