Dólar estabiliza em R$ 5,50 em meio a tensões pré-tarifas e sinalizações do Copom

O dólar comercial encerrou esta terça-feira (5) com estabilidade incomum, cotado a R$ 5,50 na venda, em um dia marcado pela expectativa de dois eventos explosivos: a entrada em vigor das tarifas de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros e a divulgação da ata do Copom, que confirmou a manutenção da Selic em 15% ao ano. A aparente calmaria, porém, esconde uma “tempestade perfeita” entre política monetária, geopolítica e riscos setoriais.

Gráfico Dólar em queda: cotação se aproxima dos R$ 5,50 no início de agosto - Fonte: Investing.com
Dólar em queda: cotação se aproxima dos R$ 5,50 no início de agostoFonte: Investing.com

Os Pilares da Estabilidade Temporária

A resistência do câmbio deveu-se a três âncoras:

  1. Isenções estratégicas negociadas: Cerca de 700 produtos brasileiros, incluindo aviões da Embraer, celulose e minério de ferro foram excluídos das tarifas americanas. Isso protege 44,6% do fluxo exportador para os EUA, um alívio imediato para setores-chave.
  2. Diplomacia em movimento: O ministro Fernando Haddad anunciou conversas com Scott Bessent, secretário do Tesouro americano, para ampliar as exceções. O mercado interpretou como sinal de que “a porta não está fechada”, nas palavras de um operador da B3.
  3. Sinalização dura do Copom: O Comitê deixou claro que manterá os juros em 15% (patamar mais alto desde 2006) por “período bastante prolongado”. Para investidores, isso atrai capitais especulativos, segurando o dólar.

Os Alertas Vermelhos da Ata do Copom

O documento revelou preocupações profundas:

  • Inflação teimosa: A projeção oficial saltou para 5,09% em 2025 (acima do teto da meta de 4,5%), pressionada por serviços e alimentos. O Comitê admitiu que “os riscos estão inclinados para o alto”.
  • Efeito tarifário: As sobretaxas americanas podem gerar “pass-through cambial” (repasse ao consumidor), ampliando a inflação importada.
  • Cenário externo “adverso”: A ata citou explicitamente as “decisões unilaterais dos EUA” como fator de instabilidade global.

Os Setores no Olho do Furacão

Enquanto commodities industriais respiraram, outros setores se preparam para o impacto a partir de amanhã (6/ago):

  • Agronegócio: Café (+18% das exportações para EUA), carne bovina (US$ 1,2 bi/ano) e frutas pagarão 50% de sobretaxa.
  • Têxteis e calçados: 32% das exportações do setor estão sob risco, com margens já estreitas.
  • Reação em cadeia“O custo será repassado ao consumidor americano ou aos produtores brasileiros”, alerta Marcos Lisboa (Insper)“Não há cenário sem perdas”.

A Bomba-Relógio Geopolítica

A decisão do STF de decretar prisão domiciliar a Jair Bolsonaro acrescentou lenha na fogueira:

  • O Departamento de Estado americano emitiu nota condenando a medida: “Deixem Bolsonaro falar!”.
  • Analistas temem que Trump use o caso como moeda de barganha: reduzir tarifas em troca de “gestos de boa vontade” do Judiciário brasileiro.
  • Fernando Ulrich (Banco ABC)“Estamos numa gangorra perigosa: cada decisão judicial vira variável cambial”.

O Que Esperar Amanhã?

Os operadores preveem três cenários:

  1. Pessimista: Tarifas + retaliação à prisão de Bolsonaro = dólar a R$ 5,70.
  2. Neutro: Implementação parcial das tarifas com novas isenções = oscilação entre R$ 5,45 e R$ 5,60.
  3. Otimista: Acordo de última hora + recuo de Trump = dólar abaixo de R$ 5,40.

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