A corrida pela aquisição da Warner Bros. Discovery ganhou novos contornos nesta segunda-feira (8), após a Paramount apresentar uma proposta agressiva de US$ 108 bilhões pela companhia, uma reação direta ao anúncio de que a Netflix havia fechado um acordo preliminar para comprar o conglomerado por US$ 72 bilhões.
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O movimento reacende tensões em Hollywood, pressiona reguladores nos Estados Unidos e reabre um debate sobre a concentração do mercado de entretenimento. Segundo fontes ligadas às negociações, a Paramount enviou uma oferta hostil, buscando convencer diretamente os acionistas da Warner, sem a anuência da diretoria.
Em termos financeiros, o estúdio ofereceu US$ 30 por ação, superando os US$ 28 propostos pela Netflix e elevando a disputa a um novo patamar.
Uma oferta hostil ocorre quando a empresa interessada tenta driblar a gestão da companhia-alvo, indo diretamente aos investidores com a promessa de maior retorno financeiro. Esse tipo de iniciativa costuma elevar o grau de tensão e envolver análises mais rigorosas de órgãos reguladores.
O acordo anunciado pela Netflix na última sexta-feira (5), avaliado em US$ 72 bilhões para ativos de TV, cinema e streaming, já era considerado um dos mais impactantes da história recente do setor.
O pacote completo da transação chegaria a US$ 82,7 bilhões, incluindo dívidas e uma multa rescisória de US$ 5,8 bilhões, caso o negócio não seja aprovado por reguladores nos EUA e na Europa.
A Paramount, porém, insiste que o processo de venda foi “tendencioso”, segundo carta enviada à Warner na semana passada, alegando que o estúdio teria predefinido a Netflix como vencedora da disputa.
A possibilidade de que a Warner, detentora de marcas como HBO, Warner Bros. Pictures, CNN e Discovery, seja absorvida pela Netflix provocou reação imediata em Hollywood.
Executivos, sindicatos, cineastas e analistas expressaram receios sobre os impactos da fusão no mercado de trabalho, na produção cinematográfica e na concorrência global.
Entre as principais preocupações destacam-se:
- Risco de demissões em massa, caso estruturas sejam unificadas.
- Redução de produções para cinema, já que a Netflix historicamente prioriza lançamentos diretos no streaming.
- Aumento da concentração de poder, o que poderia diminuir alternativas para criadores e elevar custos para consumidores.
O caso ultrapassou a esfera empresarial e alcançou a política nacional. O presidente Donald Trump afirmou que a fusão resultaria em uma empresa com “participação de mercado potencialmente problemática”, indicando que pretende acompanhar o processo conduzido pelo Departamento de Justiça (DoJ).
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O conselheiro econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, declarou que a análise regulatória deve “levar um bom tempo”, sinalizando que a aprovação está longe de ser garantida.
Paramount tenta virar o jogo após meses de negativas
A proposta apresentada hoje é a mais alta desde que a Paramount iniciou, ainda em setembro, uma série de tentativas para adquirir a Warner e formar um conglomerado capaz de enfrentar a liderança da Netflix no streaming.
Todas as ofertas anteriores haviam sido negadas.
O estúdio, que vive um momento de irregularidade nas bilheterias, aposta que a compra da Warner pode restabelecer seu protagonismo em Hollywood.
Para isso, a empresa sustenta que sua proposta seria menos concentradora e menos problemática do ponto de vista antitruste do que a fusão com a Netflix.
Segundo advogados da Paramount, a união Netflix–Warner criaria um grupo com 43% do mercado global de streaming, número considerado suficientemente alto para violar leis antitruste nos EUA. Leis antitruste são regulamentações que visam proteger a livre concorrência no mercado, impedindo abusos de poder econômico, monopólios e práticas anticompetitivas como formação de cartéis, fixação de preços e divisão de mercados, beneficiando consumidores e a economia em geral.

Independentemente de qual proposta avance, analistas afirmam que o processo enfrentará forte escrutínio regulatório.
Grandes fusões no setor de mídia já exigem análises detalhadas, mas o caso Netflix–Warner tem sido considerado especialmente sensível por envolver:
- plataformas dominantes no streaming;
- ativos estratégicos de jornalismo, como a CNN;
- impactos diretos em empregos, sindicatos e produção cultural.
Ao apresentar a oferta hostil, a Paramount quer mostrar que existe um comprador alternativo, argumento que pode influenciar a avaliação do Departamento de Justiça.
Fontes ligadas ao processo afirmam que a estratégia da Paramount é dar aos acionistas a sensação de que não aceitar a oferta seria perder a melhor oportunidade financeira e, simultaneamente, convencer reguladores de que sua proposta gera menos riscos competitivos.
Com a Netflix ainda vista como favorita, mas agora sob pressão financeira, política e regulatória, o futuro da Warner Bros. Discovery permanece incerto.
A intervenção da Paramount aumenta a complexidade das negociações e cria um cenário raro: duas gigantes do entretenimento disputando abertamente o controle de um dos maiores catálogos audiovisuais do planeta.
A expectativa é que os próximos passos envolvam novas rodadas de negociações, manifestações públicas de acionistas e, possivelmente, a entrada de outros interessados.
Enquanto isso, Los Angeles, Nova York e Washington acompanham atentamente o que pode se tornar a maior fusão da história do entretenimento moderno.









