Tragédia no Pantanal: arquiteto chinês e cineastas brasileiros estão entre vítimas de acidente aéreo em MS

Quatro pessoas morreram na queda de um avião de pequeno porte na zona rural de Aquidauana, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, na noite de terça-feira (23). Entre as vítimas estão o arquiteto chinês Kongjian Yu, considerado um dos maiores do mundo, os cineastas brasileiros Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr., além do piloto e proprietário da aeronave, Marcelo Pereira de Barros.

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A aeronave caiu ao lado da pista de pouso da Fazenda Barra Mansa, área turística que já foi locação da novela Pantanal, da TV Globo. O local recebe visitantes do Brasil e do exterior. As causas do acidente ainda estão sob investigação da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros.

Avião cai e mata quatro pessoas em Aquidauana, no Pantanal de MS - Foto: Reprodução/Polícia
Avião cai e mata quatro pessoas em Aquidauana, no Pantanal de MS – Foto: Reprodução/Polícia

As vítimas

Marcelo Pereira de Barros – o piloto experiente

Marcelo Pereira de Barros, piloto do avião - Foto: Reprodução/Redes Sociais
Marcelo Pereira de Barros, piloto do avião – Foto: Reprodução/Redes Sociais

O piloto e proprietário da aeronave, Marcelo Pereira de Barros, era morador de Aquidauana e prestava serviços de táxi aéreo na região. Reconhecido por sua experiência, ele era frequentemente contratado para sobrevoos no Pantanal e na Serra da Bodoquena, áreas de difícil acesso e grande procura turística.

Amigos e familiares destacam que Marcelo era apaixonado pela aviação e tinha uma relação profunda com a região sul-mato-grossense, que sobrevoava quase diariamente. Ele deixa dois filhos e uma trajetória marcada pela dedicação ao trabalho e pela confiança conquistada entre clientes e colegas.

Kongjian Yu – o arquiteto das “cidades-esponja”

O arquiteto e paisagista chines Kongjian Yu, criador do conceito de "cidades-esponja" - Foto: Foto: Ana Paula Paiva/Valor
O arquiteto e paisagista chines Kongjian Yu, criador do conceito de “cidades-esponja” – Foto: Foto: Ana Paula Paiva/Valor

Kongjian Yu, de 61 anos, era um dos arquitetos paisagistas e urbanistas mais respeitados do mundo. Professor da Universidade de Pequim, fundou e dirigia a Turenscape, um dos maiores escritórios de arquitetura paisagística do planeta.

Foi o criador do conceito das “cidades-esponja”, modelo urbanístico inovador que transforma espaços urbanos em áreas capazes de absorver e reaproveitar grandes volumes de água, reduzindo enchentes e favorecendo a sustentabilidade. Suas ideias foram aplicadas em mais de 70 cidades chinesas, inspirando projetos em diversas partes do mundo.

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Yu tinha graduação na Universidade Florestal de Beijing e doutorado em Design de Paisagem pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Como consultor do governo chinês, atuou em projetos urbanos de grande escala, sempre defendendo a integração entre cidade e natureza.

Sua passagem pelo Brasil havia começado com uma participação de destaque na Bienal de Arquitetura de São Paulo. Depois, viajou ao Pantanal para conhecer a região e colaborar em um documentário sobre cidades-esponja, ao lado dos cineastas Luiz Ferraz e Rubens Crispim Jr.

Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz – cineasta de alcance internacional

Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz está entre as quatro vítimas da queda do avião no Mato Grosso do Sul - Foto: Divulgação Olé Produções
Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz está entre as quatro vítimas da queda do avião no Mato Grosso do Sul – Foto: Divulgação Olé Produções

O documentarista e diretor Luiz Ferraz era um nome consolidado no audiovisual brasileiro. Desde 2007, produzia e dirigia pela Olé Produções, empresa que fundou, mas também desenvolvia projetos em parceria com produtoras de alcance internacional.

Sua obra mais conhecida é a série “Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia”, produzida para a HBO e indicada ao Emmy Internacional, um dos principais prêmios da televisão mundial. Também dirigiu a série “To Win or To Win”, para a MBC/Shahid, sobre o clube saudita Al Nassr FC, e foi responsável pelo documentário “Paisagem Concreta”, sobre o arquiteto português Álvaro Siza e sua relação com o Brasil.

Seu trabalho unia rigor jornalístico, pesquisa aprofundada e estética cinematográfica. Ferraz buscava novas linguagens para o documentário, explorando a fusão entre realidade e narrativa artística. Participou de festivais internacionais e foi reconhecido como uma das vozes mais criativas do documentário contemporâneo brasileiro.

Rubens Crispim Jr. – documentarista e produtor cultural

Rubens Crispim Jr. - Foto: Reprodução/Facebook
Rubens Crispim Jr. – Foto: Reprodução/Facebook

Rubens Crispim Jr., natural de São Paulo, era formado em Artes Plásticas pela ECA-USP (2002). Documentarista, diretor de fotografia e produtor independente, ganhou notoriedade ao vencer, em 2006, o reality “Projeto 48”, do canal TNT, quando realizou o curta “Os 400 Golpes”, exibido em toda a América Latina.

Fundador da produtora Poseídos, trabalhou em projetos de grande impacto ao longo de quase duas décadas. Dirigiu e fotografou produções para Discovery Channel, National Geographic, Arte 1, TV Globo, TV Cultura e diversas plataformas de streaming.

Entre seus projetos de maior destaque está o filme “Segue o Baile Bixiga 70”, que circulou em festivais como o In-Edit Brasil 2019 e o Mimo Festival, sendo depois disponibilizado no Canal Brasil, NOW e Amazon Prime.

Além do trabalho autoral, Rubens ocupou cargos de liderança cultural. De 2019 a 2023, coordenou o departamento de audiovisual da Amigos da Arte, organização social responsável por milhares de atividades culturais no estado de São Paulo. Mais recentemente, dedicou-se a documentar exposições da Pinacoteca de São Paulo, fortalecendo o registro audiovisual da arte brasileira contemporânea.

Legado interrompido

A morte de Kongjian Yu, Luiz Ferraz, Rubens Crispim Jr. e Marcelo Pereira de Barros deixa lacunas profundas em suas áreas de atuação. Enquanto Yu representava um avanço global na arquitetura sustentável, Ferraz e Crispim simbolizavam a força do documentário brasileiro como ferramenta de reflexão social, estética e histórica.

O acidente também impacta o turismo e a aviação regional, já que Marcelo era um piloto conhecido e ativo na rota do Pantanal. A tragédia uniu em luto a comunidade acadêmica, artística e local, gerando grande repercussão no Brasil e no exterior.

Investigação em andamento

De acordo com autoridades, a aeronave só estava liberada para voos diurnos, mas caiu à noite. Informações preliminares apontam que, após a queda, o avião teria pegado fogo, e as vítimas morreram carbonizadas.

A Polícia Civil de Aquidauana e o Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA VI), ligado à Força Aérea Brasileira, vão apurar as condições do avião, a habilitação do piloto, possíveis falhas mecânicas e fatores climáticos que possam ter contribuído para a tragédia.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

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