A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório alarmante: o suicídio representa uma em cada cem mortes no mundo. O documento, publicado nesta terça-feira, destaca que a saúde mental continua sendo uma das maiores crises globais, com impactos profundos entre jovens e populações vulneráveis.
Apesar de uma redução de 35% nas taxas de suicídio entre 2000 e 2021, os avanços são considerados insuficientes. A meta estabelecida pelas Nações Unidas em 2015 — reduzir em um terço os suicídios até 2030 — está longe de ser alcançada. Se a tendência atual continuar, a redução será de apenas 12% em cinco anos.
LEIA TAMBÉM: Apenas 1 em cada 10 pessoas com depressão recebe tratamento adequado, afirma OMS
Dévora Kestel, diretora do Departamento de Saúde Mental da OMS, declarou: “O suicídio custou a vida de 727 mil pessoas apenas em 2021. É uma tragédia silenciosa que afeta todas as regiões do planeta.”
Queda insuficiente nas taxas globais
O relatório aponta que o suicídio é uma das principais causas de morte entre pessoas de 15 a 29 anos, independentemente do país ou condição socioeconômica. A pandemia de covid-19 agravou o cenário, especialmente entre jovens, que enfrentaram isolamento, instabilidade emocional e maior exposição às redes sociais.
Confira “Filhos do Silêncio” de Andrea dos Santos
Mais de 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos mentais, como ansiedade e depressão — número que cresce mais rápido do que a própria população mundial.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, afirmou: “A transformação dos serviços de saúde mental é um dos desafios mais urgentes da saúde pública.”
Desigualdade entre países
Embora 73% dos suicídios ocorram em países de baixa ou média renda, as taxas são proporcionalmente maiores em países ricos. A OMS alerta que os dados podem ser distorcidos pela falta de registros confiáveis em regiões mais pobres, dificultando comparações precisas.
Além disso, fatores como conflitos, violência, abuso, perdas familiares e sensação de isolamento estão fortemente associados ao comportamento suicida. Grupos vulneráveis como refugiados, indígenas, pessoas LGBTQIA+ e detentos apresentam risco elevado.
Alexandra Fleischmann, especialista em prevenção de suicídio da OMS, reforça: “Cada suicídio é evitável. Precisamos de estratégias nacionais eficazes e sustentáveis.”
Dr. Humberto Corrêa, psiquiatra e professor da UFMG, destaca: “O Brasil ainda carece de uma política pública robusta para prevenção. A escassez de profissionais e serviços é crítica.”
Dr. Vikram Patel, professor de saúde global em Harvard, afirma: “Investir em saúde mental é investir em produtividade, educação e segurança.”
Segundo a OMS, os transtornos mentais geram custos diretos elevados com saúde, mas os custos indiretos como perda de produtividade e incapacitação são ainda mais significativos. Estima-se que ansiedade e depressão custem à economia global mais de US$ 1 trilhão por ano.
Caminhos para a prevenção
A OMS recomenda quatro medidas principais para reduzir os suicídios:
- Limitar o acesso a meios letais (como armas e pesticidas)
- Promover habilidades socioemocionais entre adolescentes
- Garantir cobertura de saúde mental acessível
- Estimular a mídia a reportar suicídios com responsabilidade
A iniciativa “LIVE LIFE”, da OMS, busca implementar essas ações em escala global, com foco em intervenções de baixo custo e alto impacto.