Pesquisa sugere que vacina de zóster pode prevenir doenças do coração

Vacinação contra o herpes-zóster – popularmente conhecido como cobreiro – está associada a uma redução significativa no risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC), segundo estudo global. Apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia, em Madrid, o estudo trouxe novidades na área da saúde desde a data que foi revelado, na quinta-feira, 28 de agosto.

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Com dados de quase duas décadas, a pesquisa avaliou e encontrou uma diminuição de 18% nos eventos cardiovasculares em adultos acima de 18 anos e de 16% entre pessoas com mais de 50 anos.]

O herpes-zóster

Também conhecido como cobreiro (o formato sinuoso das lesões cutâneas se assemelha a uma cobra rastejando sobre o corpo), o herpes-zóster é uma infecção causada pela reativação do mesmo vírus que causa a catapora na infância.

O vírus pode ser reativado devido a fatores como envelhecimento ou queda da imunidade, resultando em lesões vesiculares dolorosas numa faixa da pele que segue um nervo.

Entre os sintomas, estão:

  • dor intensa ao longo do dermátomo (faixa da pele) afetado;
  • erupção cutânea com pequenas bolhas agrupadas sobre uma base avermelhada;
  • coceira;
  • irritação na pele.

O estudo e suas revelações

A meta-análise reuniu 19 trabalhos científicos, incluindo ensaios clínicos e estudos observacionais, sendo a primeira a compilar evidências globais sobre o impacto da vacina do zóster na saúde cardiovascular.

Segundo os pesquisadores responsáveis pelo estudo, a aplicação da vacina foi associada a 1,2 a 2,2 eventos cardiovasculares a menos por mil pessoas vacinadas por ano. Isso significa que, a cada mil pessoas vacinadas, de 1 a 2 casos de infarto ou AVC deixam de acontecer por ano.

Contudo, os autores destacam que a maior parte das evidências vem de estudos observacionais, ou seja, estão sujeitos a viés. Existe, de fato, a associação entre a vacina ser a causa direta da redução de infartos e AVCs. Porém, ainda não é possível afirmar essa relação.

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Para o médico infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o trabalho reforça um conceito já observado com outras vacinas, como a da gripe.

Segundo Renato, o processo inflamatório gerado por vírus como influenza, coronavírus e o próprio herpes-zóster pode desestabilizar placas de gordura nas artérias, favorecendo o desprendimento e levando a eventos graves como AVC e infarto. Portanto, prevenir essas infecções é também uma forma de prevenção cardiovascular.

A importância da descoberta

O assunto ganhou relevância porque as doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte no mundo, responsáveis por mais de 3 milhões de óbitos por ano, segundo a Sociedade Europeia de Cardiologia.

Em 2025, a entidade publicou um consenso clínico defendendo que as vacinas passem a ser consideradas o “quarto pilar” da prevenção cardiovascular, ao lado de medicamentos contra a hipertensão, diabetes e o colesterol.

As doenças cardiovasculares representam de 31% a 32% o número de óbitos a nível mundial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 80% desses casos acontecem em países de baixa e média renda.

A vacina contra o zóster está disponível no Brasil apenas na rede privada. Para pessoas imunocomprometidas – como transplantados, pacientes em diálise ou que usam imunossupressores – a indicação pela SBIm pode começar aos 18 anos. Para pessoas a partir dos 50 anos, a recomendação é de aplicação rotineira.

A inclusão no Programa Nacional de Imunizações (PNI) ainda não tem previsão.

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