Alimentos ultraprocessados afetam saúde reprodutiva e metabólica masculina, diz estudo

Um estudo feito por cientistas da Universidade de Copenhague (Dinamarca) e da Universidade Côte d’Azur revelou que alimentos ultraprocessados interferem em diversos componentes do corpo humano. Homens que participaram da pesquisa ganharam mais gordura corporal e tiveram alterações hormonais, mesmo quando ingeriam a mesma quantidade de calorias que em uma dieta à base de alimentos minimamente processados.

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Os resultados foram publicados na revista científica Cell Metabolism, no dia 28 de agosto.

A pesquisa

O estudo reuniu 43 homens, de 20 a 35 anos de idade. Todos eles fizeram exames de saúde antes de começarem o estudo, apresentando condições saudáveis.

Eles foram divididos em dois grupos. O primeiro grupo, com 21 homens, seguiu uma dieta adequada de calorias enquanto o segundo grupo, com 22 homens, seguiu uma dieta com excesso de calorias.

O primeiro grupo dividiu-se em dois sub-grupos. O primeiro fez uma dieta de alimentos não processados e depois fez uma dieta de alimentos ultraprocessados. O segundo sub-grupo também fez as duas dietas, só que em ordens diferentes.

Ambas as dietas eram muito semelhantes: mesma quantidade de calorias, proteínas, carboidratos e gorduras. Diferenciavam-se no grau de processamento dos alimentos.

O segundo grupo, que baseou-se em dieta com excesso de calorias, repetiu os passos do primeiro grupo. Dividiu-se em dois subgrupos e também fizeram dietas de alimentos não processados e de alimentos ultraprocessados.

Cada período de dieta durou três semanas. O intervalo entre cada dieta durou 12 semanas.

Além disso, os pesquisadores monitoravam o peso, composição corporal, pressão arterial, hormônios sexuais e parâmetros do sêmen. As amostras eram colhidas antes e depois de cada fase, e analisadas por avaliadores que não sabiam a qual dieta cada voluntário tinha sido exposto.

Resultados

Ao final do experimento, analisando o período em que alimentos ultraprocessados foram consumidos, os resultados foram os seguintes: os participantes ganharam em média 1,3 a 1,4 kg em três semanas. Quase todo esse peso veio da gordura corporal. A massa muscular, no entanto, praticamente não se alterou.

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Nos exames de sangue, surgiram mudanças em colesterol, pressão arterial e alguns marcadores inflamatórios. Os hormônios sexuais e a qualidade do sêmen também foram alterados.

Houve uma queda na testosterona e no hormônio folículo-estimulante (FSH), ambos essenciais para a produção de espermatozoides. Além disso, a motilidade espermática – capacidade de os espermatozoides se moverem com eficiência até o óvulo – foi reduzida.

Por trás da análise

Os resultados que afetaram a parte hormonal, no FSH e na testosterona, estão relacionados à um outro fator: contaminantes químicos expostos dos ultraprocessados.

Um dos achados do estudo foi o aumento do nível de um tipo de ftalato – substância que migra de plásticos usados em embalagens e no processamento industrial de alimentos – associado à desregulação hormonal.

Os ftalatos pertencem a um grupo de poluentes chamados disjuntores endócrinos, devido à sua habilidade de interferir no funcionamento dos hormônios humanos. Esses compostos têm potencial de interferir em hormônios-chave da produção espermática, como o FSH e a testosterona.

Limitações

No entanto, o estudo teve limitações. A estimativa da ingestão de calorias baseou-se na adesão dos participantes à dieta e na precisão de seus relatórios, feitos diariamente e ao final de cada período.

Outra limitação da pesquisa é a duração relativamente curta das dietas experimentais. Intervenções dietéticas de 3 semanas podem ter induzido respostas agudas que, ao longo do tempo, poderiam se normalizar caso as dietas fossem prolongadas.

Impactos internacionais

O consumo de alimentos ultraprocessados vem crescendo, em diversos países, de forma acelerada. Na Austrália, no Canadá, Estados Unidos e Reino Unido, os produtos representam mais da metade das calorias ingeridas diariamente pela população.

No Brasil, a situação não fica para trás. Segundo um levantamento realizado pela Fiocruz Brasília e o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, o consumo de alimentos ultraprocessados custa R$ 10,4 bilhões por ano à saúde e economia no país.

Os custos são divididos – a maior parte são por mortes prematuras, representando as perdas econômicas pela saída de pessoas em idade produtiva do mercado de trabalho. Há, também, os custos com o tratamento no SUS e os custos previdenciários, como a aposentadoria precoce.

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