A eGenesis, uma empresa de biotecnologia, anunciou nesta segunda-feira (8) que a Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) liberou seu pedido de iniciar um ensaio clínico. O ensaio envolve estudar e testar rins derivados de suínos geneticamente modificados em pacientes com doença renal em estágio terminal.
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A empresa eGenesis desenvolve órgãos projetados compatíveis com humanos para lidar com a escassez global de órgãos.
O ensaio
O estudo vai avaliar a segurança, tolerabilidade e eficácia do produto às 24 semanas (cerca de 6 meses) após o transplante de rins em pacientes. Para participar do ensaio, os participantes devem ter 50 anos ou mais, ser dependentes de diálise e na lista de espera de um transplante renal.
Para que o procedimento de transplante do rim do porco para o humano seja realizado, é necessário que esses porcos sejam geneticamente modificados. Utilizando uma ferramenta chamada CRISPR, os porcos são criados em laboratórios com mutações que permitem que seus órgãos possam ser transplantados com segurança e menor risco de rejeição.
Além disso, os órgãos do porco passam por 69 edições genéticas, incluindo alterações em 59 genes para inativar vírus que estão integrados ao genoma do porco.
Xenotransplantes
O procedimento de transplante de órgãos de porco para humanos é conhecido como xenotransplante. Atualmente, diversos centros de pesquisa ao redor do mundo (inclusive no Brasil) investigam e testam na prática o uso de porcos geneticamente modificados para transplantes.
O primeiro paciente a receber esse tratamento foi um homem chamado Rick Slayman, de 62 anos. Em março de 2024, o Hospital Geral de Massasuchetts anunciou que Rick foi o primeiro receptor vivo do mundo de um rim de porco geneticamente editado.
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O paciente estava com uma doença renal terminal e permaneceu dois meses com o órgão transplantado. No entanto, faleceu após o transplante devido a problemas cardíacos não relacionados ao órgão transplantado.
Outro paciente, chamado Tim Andrews, é atualmente o receptor de rim de porco há mais tempo vivo no mundo. Com 67 anos de idade, Tim estava em tratamento com diálise até janeiro de 2025, quando recebeu o xenotransplante.
Dificuldades de um transplante
Segundo dados da empresa eGenesis, cerca de 36.000 pessoas foram adicionadas para a lista de espera de transplante de rim. Os números referem-se somente ao ano de 2020, nos Estados Unidos.
Além disso, os dados revelam que o número de doações não acompanha essa demanda. 20 pessoas morrem por dia nos EUA por falta de transplante de órgão.
Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 78 mil pessoas aguardam por doação de órgãos no Brasil. Mais da metade dessa fila de espera é para doação de rim (42.838).
Mesmo tendo atingido um recorde histórico de transplantes realizados no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2024, com mais de 30 mil procedimentos, o Brasil ainda tem milhares de pessoas na fila de espera devido à alta incidência de doenças renais.