Etiquetas usadas para traduzir a dosagem correta de medicamentos do português para o pomerano aumentaram em 80% a adesão a tratamentos de moradores de Santa Maria de Jetibá. Localizada na Região Serrana do Espírito Santo, alguns dos pacientes que moram na cidade se comunicam melhor no idioma pomerano, e, devido às etiquetas, entenderam pela primeira vez as recomendações escritas pelos médicos e como usar os remédios.
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A ideia nasceu com o projeto “Cultura e Saúde: o impacto da etiquetagem em pomerano na adesão ao tratamento”, criado pela médica Marcella Lima Seibert e pelas enfermeiras Géssica Penha Buss e Leticia Manhani. As profissionais de saúde atuam em Santa Maria de Jetibá.
Por meio do Programa de Qualificação da Atenção Primária à Saúde (Qualifica-APS), do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi), nasceu o projeto que impactou moradores da cidade.
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A comunidade
A ideia do projeto surgiu ao perceber a dificuldade da comunidade pomerano em entender as orientações de saúde, principalmente por causa da barreira da língua e da cultura.
Santa Maria de Jetibá foi colonizada por europeus, vindos da região da Pomerânia, no século 19. Essa área localizava-se entre a Alemanha e a Polônia, tendo uma história complexa de divisão no passado. Grande parte da região foi anexada pela Polônia depois da Segunda Guerra Mundial.
Muitos moradores da Pomerânia vieram para o Brasil e influenciaram a cultura do país, especialmente em Santa Catarina e Espírito Santo.
Em algumas comunidades, há moradores que praticamente não falam português e continuam usando a língua pomerano no dia-a-dia, seja em casa ou no trabalho.
A língua ainda é preservada e ensinada nas escolas, garantindo que as próximas gerações mantenham vivas as heranças dos antepassados.
O projeto
A iniciativa das etiquetas é realizada na Unidade de Saúde de São Luís e ganhou destaque na 8ª Mostra “Espírito Santo, aqui tem SUS”. Como garantiu o segundo lugar da Mostra, o projeto foi um dos representantes do Estado na 20ª Mostra Nacional “Brasil, aqui tem SUS”, realizado em Belo Horizonte.
A médica Marcella Seibert disse que, ao analisar dados de 2023 sobre hipertensão e diabetes, ficou demonstrado que muitos pacientes não estavam seguindo os tratamentos corretamente. Isso aumentava os riscos de complicações e internações. A solução foi simples: etiquetar os medicamentos em pomerano, com imagens para facilitar o entendimento daqueles que falavam a língua.
Depois que essa mudança foi implantada, os dados de 2024 e 2025 mostraram uma melhora importante na adesão ao tratamento, menos complicações e uma valorização da cultura local.