Medicamento surge no país para tratamento de doença que afeta mais de 7 mil brasileiras.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo tratamento para pacientes com câncer do ovário resistente à platina, um metal precioso contido na quimioterapia. Comercializada sob o nome Elahere, a mivertuximabe soravtansina é o primeiro conjugado anticorpo-fármaco (ADC) direcionado ao receptor de folato alfa (FRα). A decisão foi anunciada na segunda-feira (1).
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O medicamento, que será comercializado pela AbbVie, é um conjugado anticorpo-fármaco (ADC) que combina um anticorpo voltado ao receptor FRα com uma carga quimioterápica capaz de destruir células tumorais, poupando a maior parte das células saudáveis. Funciona como um “cavalo de Tróia”, ligando-se à célula para invadi-la e, dentro dela, entregar um medicamento que a destrua.
O medicamento
O tratamento inicial do câncer de ovário é tradicionalmente realizado com carboplatina e paclitaxel, seguido de uma fase de manutenção, frequentemente com medicamentos orais. Algumas pacientes, no entanto, desenvolvem resistência à platina – significa que o câncer volta em até seis meses depois do fim da quimioterapia baseada nesse tipo de droga.
Até então não havia medicamento capaz de aumentar a sobrevida global. Os tratamentos disponíveis apenas prolongavam o tempo de sobrevida livre de progressão da doença. Agora, nesse novo cenário em que surge o Elahere, o tratamento caminha para mudanças positivas.
Segundo estudo conduzido pela farmacêutica AbbVie e publicado no New England Journal of Medicine, essa é a primeira terapia a demonstrar benefício em sobrevida global em comparação à quimioterapia em ensaios de fase 3 – estudos clínicos em larga escala que visam confirmar a eficácia e segurança de um novo medicamento.
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O Elahere é indicado para o tratamento de pacientes adultos com câncer epitelial de ovário, de trompa de Falópio ou peritoneal primário, FRα-positivo e resistente à platina, que tenham recebido até três tratamentos sistêmicos anteriores.
O FRα-positivo é uma característica que, em uma estimativa, cerca de 1/3 das pacientes com câncer de ovário tenham. Ele indica que as células tumorais apresentam uma proteína chamada receptor de folato alfa, usada como alvo pelo novo medicamento.
Resultados
A aprovação se baseia em um estudo global da Fase 3, aberto, randomizado e controlado, chamado MIRASOL. O ensaio envolveu 453 pacientes e mostrou que o novo medicamento reduziu em 35% o risco de progressão da doença em comparação à quimioterapia convencional.
Além disso, houve ganho em sobrevida global: pacientes que receberam o tratamento viveram, em média, 16 meses, contra 12 meses do grupo de quimioterapia.
Os dados foram apresentados na Reunião Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), em 2023.
Sintomas
O medicamento Elahere não foge das reações adversas. Segundo a European Medicines Agency, alguns dos efeitos colaterais mais comuns (que podem afetar mais de 1 em cada 10 pessoas), são:
- visão turva
- náusea e vômitos
- cansaço e fraqueza
- diminuição do apetite
- olho seco
Disponibilidade no Brasil
No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima cerca de 7,3 mil novos casos de câncer de ovário por ano, segundos dados de 2022. A doença é uma das principais causas de morte por câncer ginecológico no mundo. Alguns problemas do tratamento são seu diagnóstico tardio e a tendência da doença reaparecer após o tratamento inicial.
Com a aprovação da Anvisa, o Elahere passa a integrar o arsenal terapêutico disponível no país. Ainda não há definição sobre a inclusão no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ou no Sistema Único de Saúde (SUS).
Autorizado em 2024, o medicamento já está disponível na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, a liberação é vista como um avanço, já que há mais de oito anos não surgia uma nova opção para pacientes com câncer de ovário resistente à platina.