O Ministério da Saúde, nesta quarta-feira (10), lançou o álbum seriado “Nossas Marcas, Nossa Voz: álbum seriado da pessoa com leishmaniose tegumentar”, material inédito que apresenta um olhar ampliado sobre a doença. O álbum mescla informações técnico-científicas com depoimentos reais de pessoas que enfrentaram ou enfrentam a enfermidade.
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A publicação foi construída a partir de um estudo etnográfico realizado no Baixo Sul da Bahia, no âmbito do projeto ECLIPSE – Empoderando pessoas com leishmaniose cutânea, que reuniu experiências de pacientes, profissionais de saúde, gestores e membros da comunidade.
O material foi lançado durante o webinário “Nossas marcas, nossa voz: ciência e vivência na Leishmaniose Tegumentar”. O evento teve como público-alvo pessoas que atuam com doenças negligenciadas e em contextos de vulnerabilidade. 150 internautas participaram do evento.
O objetivo é aproximar a sociedade dos aspectos biopsicossociais da doença, além de fortalecer estratégias de educação comunitária e combate ao estigma.
Um webinário
Foram apresentados os seguintes temas:
- determinantes sociais da doença;
- a importância do cuidado coletivo;
- as ações afirmativas e educativas para políticas públicas; e
- os desafios enfrentados na integração entre vigilância e atenção à saúde em regiões endêmicas.
Segundo o coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial, Francisco Edilson, o olhar humanizado da Leishmaniose Tegumentar tem sido uma prioridade.
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“É uma doença que traz um impacto social, uma transcendência e gera marcas. […] É nossa prioridade olhar para o paciente individual e coletivamente também para garantirmos melhor eficácia no tratamento a depender de cada caso. Estamos lidando com vidas e precisamos nos conectar além dos números com essas pessoas”.
Histórias sendo contadas
O álbum lançado pelo Ministério da Saúde é repleto de informações a respeito da Leishmaniose Tegumentar e, além disso, traz relatos de pessoas que já tiveram a doença.
“Naquele tempo, a gente da roça para chegar até o médico era difícil. Aí, o farmacêutico era quem dava o sintoma daqueles que foi que ele viu. […] O meu irmão ficou com uma (ferida) desse tamanhão assim, bem assim na perna, quase comia a perna toda. […] Ficou tempo, meu irmão mesmo demorou. Eu acho que quase uns dois anos pra sarar”.
O relato, de uma pessoa desconhecida, traz em perspectiva o relato de alguém que vivia no campo e tinha condições de vida muito distintas de alguém da cidade. Sem médicos próximos, a solução dos doentes era “ir numa cachoeira, pra tirar aquelas carne podre”. No entanto, a ferida voltava e começava a ganhar proporção.
“Cada tempo aparece uma coisa. É como a plantação da gente… um tempo ela dá bastante, outro tempo ele é mais fraco. É a mesma coisa… cada tempo tem um tipo de doença. E essa tal dessa leishmaniose, sempre aparece“.
Leishmaniose e suas características
A leishmaniose tegumentar (LT) é uma doença infecciosa, não contagiosa, causada por protozoários do gênero Leishmania. É transmitida pela picada de insetos fletobomíneos, também conhecidos como mosquito-palha, asa-dura e outros nomes populares.
Suas manifestações mais comuns são lesões na pele, que podem variar em formato e gravidade, atingindo áreas expostas como braços e pernas. Em casos menos frequentes, também atingem as mucosas do nariz e da boca.
Segundo dados preliminares do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), o Brasil registrou 67.224 novos casos de Leishmaniose Tegumentar, entre 2020 e 2024.
O perfil epidemiológico mostra que a maioria dos casos ocorreu em homens (73,3%), pessoas com mais de 20 anos (81,9%), negras (75,6%) e moradoras de áreas rurais (50,1%). No mesmo período, foram contabilizados 62 óbitos pela doença.
Como forma de prevenção, o Ministério da Saúde orienta medidas coletivas, como a instalação de telas em portas e janelas, uso de mosquiteiros e limpeza regular de quintais. O foco é evitar o acúmulo de lixo orgânico que atrai o vetor.
Em nível individual, recomenda-se o uso de roupas compridas, especialmente durante atividades em áreas de mata no fim da tarde e à noite, período de maior atividade do inseto.