O anúncio do presidente Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre uma gama de produtos brasileiros soou como um alerta imediato para empresas, fazendas e investidores. A decisão, oficializada pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR), incide sobre aço, alumínio, carne bovina, soja e itens de tecnologia e entra em vigor em 1º de agosto de 2025

Logo que o comunicado oficial foi divulgado, o dólar futuro para agosto disparou 2,3%, alcançando R$ 5,62, na B3. No mesmo pregão, o Ibovespa futuro registrou queda de 2,4%, recuando abaixo de 138 mil pontos . Esse movimento sinaliza que investidores buscam proteção em dólar e reduzem posições de risco no mercado acionário, antecipando um ambiente de menor entrada de divisas no país.
Por que a tarifa americana afeta o Brasil?
As exportações brasileiras perderão competitividade imediata nos Estados Unidos, que foram destino de cerca de US$ 30 bilhões em produtos nacionais em 2024, segundo dados oficiais do MDIC . Com um imposto adicional de 50%, comerciantes americanos tenderão a substituir importações brasileiras por oferta interna ou de outros países, reduzindo para o Brasil receitas importantes em moeda forte.
No agronegócio, o impacto é duplo. Carne bovina e frango correspondem a 15% das vendas externas para os EUA. Será preciso buscar outros compradores, muitas vezes em mercados mais distantes e com custos logísticos mais elevados, o que pode reduzir margens de lucro ou elevar preços ao consumidor final .
Setores como aço e alumínio já enfrentam tarifas internas de energia e custos logísticos acima da média global, de acordo com a ANEEL . Agora, somam-se 50% de imposto externo sobre suas exportações. O MDIC projeta que esse tripé de custos poderá cortar até 25% do volume exportado de metais em 2025, com reflexos diretos no faturamento das siderúrgicas e na atividade econômica de regiões concentradas nesse segmento .
Câmbio e inflação
Menos dólares entrando no país coloca pressão sobre o real, que já vinha testando patamares de R$ 5,50. O Banco Central apontou que o câmbio médio de junho foi de R$ 5,48 e admitiu risco de chegar a R$ 5,60 se a incerteza comercial persistir . Um real mais fraco torna importações mais caras, elevando o custo de insumos, máquinas, medicamentos veterinários e componentes eletrônicos e por tabela, aumenta a pressão inflacionária.
O IBGE informa que o IPCA de junho registrou variação de 0,53%, puxado por alimentos e transporte, itens diretamente sensíveis ao câmbio . Se o dólar subir de forma abrupta, a inflação poderá ultrapassar as projeções do mercado, o que complicaria o trabalho do Copom na definição da Selic.
Regiões com alto índice de exportadores, como Sul e Sudeste, já mostram sinais de desaceleração no mercado de trabalho. A PNAD Contínua do IBGE indica que a taxa de desocupação industrial nesses locais subiu 1,2 ponto percentual nos últimos três meses . Em um cenário de retração nas vendas externas, empresas podem adiar contratações, reduzir turnos e postergar investimentos, aumentando o risco de desemprego.
LEIA TAMBÉM: Moraes prorroga inquérito da PF contra Eduardo Bolsonaro por articulações nos EUAMedidas emergenciais do governo
Em resposta ao choque externo, o Ministério da Economia prepara pacote de apoio ao setor exportador. Estão previstas:
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- Linhas de crédito via BNDES com juros subsidiados para modernização de plantas industriais e certificações sanitárias, reduzindo barreiras de entrada em novos mercados .
- Negociações na OMC, acionando oficialmente o fórum de comércio global para contestar medidas consideradas injustas e buscar moderação das tarifas .
- Fundo de compensação cambial, ainda em estudo, para amortecer variações abruptas do dólar para empresas mais vulneráveis.
O Ministério da Infraestrutura planeja antecipar trechos prioritários de ferrovias e dragagens em portos estratégicos, com objetivo de reduzir em até 10% o tempo médio de embarque. Isso pode significar ganho de competitividade equivalente a uma redução parcial das tarifas externas .
Economistas alertam que soluções emergenciais são apenas paliativas. A retomada sustentável das exportações passará por:
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- Diversificação de mercados, buscando parceiros na África, Sudeste Asiático e Oriente Médio;
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- Valorização de produtos com maior valor agregado, como carnes premium, sucos e bioinsumos;
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- Investimentos em inovação e rastreabilidade, agregando valor e superando barreiras sanitárias.
A capacidade de ajustar a política externa e as regras domésticas de produção definirá se o Brasil conseguirá transformar esse choque em impulso para uma agenda de exportação mais sólida e diversificada.