STF amplia investigações sobre tentativa de golpe com nova rodada de depoimentos marcada para agosto

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou uma nova fase de depoimentos no inquérito que apura a tentativa de subversão da ordem democrática após as eleições de 2022. Os interrogatórios estão programados para ocorrer entre os dias 5 e 9 de agosto, na sede do STF, e terão transmissão ao vivo, conforme decisão proferida nesta terça-feira (2).

Desta vez, a investigação avança sobre o chamado “núcleo 2”, formado por empresários, advogados e militares da reserva que teriam atuado na estruturação logística e no financiamento dos protestos antidemocráticos registrados entre o final de 2022 e o início de 2023.

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Quem são os alvos da nova fase?

Entre os convocados estão o empresário Tércio Arnaud Tomaz, apontado por movimentar mais de R$ 6,8 milhões para financiar acampamentos; o ex-diretor executivo José Odilon Torres, suspeito de bancar combustível e transporte para manifestantes; o advogado Luiz Henrique Munhoz, que teria articulado contatos com lideranças militares; e o coronel da reserva Eduardo Zilotti, citado como elo entre civis e setores das Forças Armadas.

As acusações incluem crimes como organização criminosa, incitação à violência institucional e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Relatórios da Polícia Federal indicam movimentações financeiras irregulares, mensagens trocadas com foco operacional e vídeos com discursos hostis à ordem constitucional.

A convocação ocorre em um momento em que o STF amplia o raio de ação das investigações. Após alcançar figuras do alto escalão do antigo governo, como o general Walter Braga Netto, preso no mês passado, o foco agora recai sobre financiadores e operadores civis.

“O objetivo é desmontar a engrenagem de apoio e financiamento aos atos golpistas”, avalia um técnico do tribunal sob condição de anonimato. Segundo ele, a estratégia é entender a cadeia de suporte que viabilizou as ações extremistas.

A nova rodada de interrogatórios reacende a tensão entre o STF e setores conservadores. Advogados de defesa classificam as medidas como “perseguição ideológica” e argumentam que as provas seriam “circunstanciais e insuficientes”. Já o Planalto tem adotado uma postura de respaldo ao Judiciário, reforçando o discurso de responsabilização de todos os envolvidos.

Durante evento oficial no Maranhão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi categórico ao defender a apuração total dos fatos:

A ofensiva conduzida por Moraes abre espaço para novos desdobramentos. Fontes do inquérito afirmam que delações premiadas estão em negociação com alguns dos investigados, que poderão receber benefícios em troca de detalhes sobre a estrutura hierárquica da operação.

Além disso, a PF investiga cinco empresas suspeitas de funcionar como canais de lavagem de recursos para os atos, com possível envolvimento de agentes do setor privado.

A ampliação do escopo do inquérito pode repercutir nas eleições municipais de 2026, sobretudo em regiões onde o bolsonarismo tem base eleitoral consolidada, como Centro-Oeste e interior do Sudeste. A depender das revelações nos depoimentos de agosto, novas denúncias poderão atingir políticos locais e candidatos apoiados por grupos investigados.

Embora o STF evite projeções públicas, há expectativa de que o julgamento do mérito ocorra apenas em 2026, em meio ao calendário eleitoral o que aumenta a sensibilidade política do caso.

Com a nova rodada de depoimentos, o STF reforça sua estratégia de seguir o rastro financeiro e estrutural dos atos antidemocráticos de 2023. A atuação de Moraes aponta para a consolidação de um entendimento: não basta identificar líderes políticos, é necessário responsabilizar também os operadores logísticos e financiadores.

A expectativa agora gira em torno de como os novos depoimentos impactarão o curso da investigação e, principalmente, se os acusados trarão informações capazes de reconfigurar o mapa de responsabilidades da tentativa de ruptura democrática.

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