Paris voltou a mergulhar em sua história, literalmente. Em uma iniciativa que marca o fim de um hiato de 102 anos, a cidade-luz reabriu ao público três trechos do Rio Sena para banho, resgatando uma tradição perdida desde 1923. A medida foi possível após anos de esforços ambientais e investimentos públicos motivados, em grande parte, pela realização das Olimpíadas de 2024.
Desde o dia 5 de julho, moradores e turistas passaram a usufruir de espaços para natação gratuita nos arredores da Torre Eiffel, da Catedral de Notre-Dame e do bairro de Bercy. Com salva-vidas de plantão, vestiários, duchas, banheiros e sinalização ambiental, os pontos foram preparados para receber banhistas com toda a infraestrutura de segurança exigida pela legislação europeia.
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O retorno da natação ao Sena não é apenas simbólico. Ele representa o sucesso de um investimento de cerca de €1,4 bilhão em obras de saneamento, despoluição e infraestrutura hídrica iniciadas em 2016. A limpeza do rio foi condição fundamental para sediar provas de natação e triatlo das Olimpíadas, realizadas no ano anterior e seu legado ficou visível nas águas que agora recebem o público.
A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que chegou a mergulhar no rio em 2024 como gesto simbólico de confiança, celebrou a abertura ao lado de autoridades e ambientalistas.
“Essa reabertura não é apenas uma vitória da engenharia ou da gestão pública, é uma reconciliação entre Paris e seu rio”, declarou.
O projeto inclui um sistema de monitoramento diário da qualidade da água, que determina se os trechos estão liberados para banho por meio de uma bandeira verde, amarela ou vermelha. A análise leva em conta níveis de bactérias como E. coli, correnteza e acúmulo de resíduos. Em caso de chuva intensa, por exemplo, os pontos podem ser interditados temporariamente, o que já ocorreu em alguns dias logo após a inauguração.
Apesar do entusiasmo, a medida também gerou críticas. Alguns especialistas em segurança aquática alertam para os riscos de nadar em um rio de grande circulação, com profundidade média de 3,5 metros, correntezas e tráfego fluvial. Há registros de afogamentos recentes, e ONGs ambientais ainda denunciam a presença de lixo, ratos e resíduos em determinados trechos.
Ainda assim, o movimento é visto como histórico e inspirador. Outros trechos do Sena e de seus afluentes, como o Marne, devem ser liberados para banho até 2028, segundo planos do governo francês. O objetivo, de acordo com o Comitê Olímpico e a Prefeitura de Paris, é consolidar o rio como espaço público de lazer, esporte e integração com a natureza urbana.
A reabertura do Sena entra para a história como um dos maiores legados ambientais de um megaevento esportivo na Europa. Em tempos de aquecimento global e busca por espaços públicos mais sustentáveis, Paris mostra que é possível transformar até mesmo um símbolo urbano poluído em um oásis de reconexão com a cidade e seus cidadãos.