A Amazônia registrou em 2024 o maior número de queimadas desde 1985, com 15,6 milhões de hectares atingidos, um recorde histórico que representa um salto de 117% em relação à média histórica, quando o bioma respondia por 52% de toda a área queimada no Brasil. Um dado alarmante que chega justamente enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensifica seu discurso em defesa da floresta, em preparação para a próxima COP30, marcada para Belém, no final do ano.
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A análise do Relatório Anual do Fogo, do MapBiomas, revela que a vegetação florestal foi a mais impactada, com 6,7 milhões de hectares queimados somente dentro da floresta nativa, superando pela primeira vez as perdas em pastagens, que atingiram 5,2 milhões de hectares. A combinação de seca severa por dois anos consecutivos, vegetação inflamável e ações humanas deliberadas criou condições ideais para um volume de destruição sem precedentes.
Nos meses iniciais de 2025, a situação permanece preocupante. Dados do Inpe mostram uma alta de 91% no desmatamento em maio, com 960 km² de floresta transformados em áreas abertas — o segundo pior resultado para o mês desde o início da medição. Isso ocorre em um contexto de recorde de emissão de carbono, onde o Brasil tornou-se um dos principais emissores globais de gases de efeito estufa devido às queimadas e ao desmatamento.
Mesmo com políticas recentes como a recriação do Fundo Amazônia, a ampliação do orçamento do Ministério do Meio Ambiente e a criação de unidades de conservação, a execução dessas ações ainda encontra forte resistência local. A ministra Marina Silva destaca que, embora as bases legais estejam sendo revistas, a prática de combate ao fogo ainda enfrenta desafios logísticos e de fiscalização, especialmente em áreas de desmatamento crônico.

O contraste entre o discurso oficial e a realidade dos dados também acende alertas sobre a capacidade de resposta. A pressão internacional, além de motivar o governo, fez com que o STF exigisse explicações sobre cortes nos recursos da educação ambiental e combate ao desmatamento. Ainda assim, especialistas afirmam que as ações implementadas, embora necessárias, ainda não equilibram a escalada dos focos de incêndio e a degradação contínua do serviço ecossistêmico da Amazônia.
A atenção global se volta, agora, para a conferência em Belém. A expectativa é que o Brasil reafirme seus compromissos, apresente planos de financiamento robustos e conquiste apoio internacional para impulsionar medidas reais de prevenção e restauração ambiental. Caso contrário, o discurso de proteção ambiental pode se tornar dissonante em relação aos indicadores reais; e a COP30 corre o risco de assistir à consolidação de um ciclo de destruição que se intensifica desde 2023.