A crise nos Correios ganhou um novo capítulo com a renúncia do presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos, após a divulgação de um prejuízo de R$ 1,7 bilhão no primeiro trimestre de 2025.
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A saída, ainda não oficializada pelo Palácio do Planalto, ocorre em meio a pressões internas por resultados e a uma crescente disputa política pelo comando da empresa, especialmente por parte do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que almeja indicar um aliado para a presidência.
A estatal, que responde ao Ministério das Comunicações, enfrenta sérias dificuldades financeiras e operacionais. Somente em 2024, os Correios já haviam acumulado R$ 2,6 bilhões em perdas, o que elevou a necessidade de reestruturação urgente. A continuidade desse cenário, somada à lentidão na recuperação e à pressão do Conselho de Administração, acabou acelerando a decisão de saída de Fabiano.

Déficit crescente e baixa performance operacional
Os números negativos têm origem em diversos fatores. A redução no volume de entregas expressas, a concorrência de empresas privadas, os altos custos de operação, além de despesas extraordinárias, contribuíram para o prejuízo registrado no início deste ano.
Mesmo com tentativas de contenção, como programas de desligamento voluntário, revisão da malha de agências e racionalização de contratos, os resultados continuaram aquém das expectativas.
Fontes próximas ao comando da estatal revelam que o próprio Conselho passou a pressionar Fabiano por resultados mais concretos, enquanto setores do governo discutiam mudanças no perfil de gestão da empresa. O clima se tornou insustentável nas últimas semanas, culminando com a renúncia.
Com a saída do presidente, a corrida pela presidência dos Correios foi deflagrada. Nos bastidores, Davi Alcolumbre já articula a nomeação de um nome ligado ao União Brasil, partido que busca fortalecer seu espaço dentro da estrutura do governo federal.
O cargo é considerado estratégico, dada a capilaridade nacional da empresa e os contratos bilionários em logística e tecnologia.
Além de Alcolumbre, outros partidos do Centrão também demonstram interesse na sucessão, de olho na influência sobre áreas-chave como infraestrutura digital, entrega de encomendas, e até possíveis planos de capitalização ou privatização parcial.
Herança problemática e urgência de reestruturação
O novo presidente dos Correios encontrará uma estatal em situação delicada, que exige decisões técnicas e políticas rápidas. Entre os desafios imediatos estão:
- Reequilibrar as finanças, revertendo prejuízos sem recorrer a aportes da União;
- Modernizar o portfólio de serviços, integrando a empresa ao ecossistema digital do e-commerce;
- Preservar a malha nacional, garantindo acesso postal a regiões remotas, mesmo com cortes de gastos;
- Recuperar a confiança do mercado, com foco em eficiência e transparência.
Até o fim de 2025, a empresa precisa apresentar resultados concretos ao BNDES e ao Tribunal de Contas da União, órgãos que acompanham de perto os indicadores da estatal e a efetividade das medidas de gestão.
Instabilidade atinge usuários e fornecedores
O ambiente de incerteza também afeta os consumidores. Pequenos empreendedores e usuários do varejo digital relatam atrasos em entregas, instabilidade nos sistemas de rastreamento e aumento nas tarifas postais. Além disso, o setor de fornecedores enfrenta atrasos nos pagamentos, o que pode comprometer a cadeia de suprimentos da empresa.
O Ministério Público Federal já apura denúncias de dispensas de licitação e contratações emergenciais sem justificativa técnica, além de casos de demissão de servidores sem critério transparente, o que pode acarretar ações de improbidade administrativa.
A carta de demissão deverá ser formalmente entregue ao presidente Lula nesta semana. Após a publicação do decreto de exoneração no Diário Oficial da União, o vice-presidente corporativo deve assumir o comando interinamente, assegurando a continuidade dos serviços essenciais.
A escolha do novo presidente seguirá rito político, com forte influência do Ministério das Comunicações e aval direto do presidente da República. O desfecho da sucessão será decisivo para o futuro da estatal, que ainda busca reencontrar seu protagonismo num setor cada vez mais competitivo.