O mundo observa atentamente o que parece ser uma mudança na ordem mundial, com rachaduras em evidência e uma crescente desconfiança global em relação aos atos instáveis dos Estados Unidos sob a gestão Trumpista. No entanto, o cenário atual é diferente: agora, há articulação entre nações em busca de alternativas ao domínio dos EUA, que, desde o final da Segunda Guerra Mundial, estende suas influências sobre as decisões globais, seja por meio de poder econômico, militar, político ou cultural.
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A superpotência enfrenta diversos problemas internos e externos, mas mantém uma política externa agressiva que parece funcionar como uma máscara para suas próprias rachaduras.
Há uma dívida bastante elevada no governo do país, que representa uma estimativa de US$ 36,2 trilhões (R$ 196 trilhões), ultrapassando a margem de 100% do PIB, segundo o Tesouro dos EUA. Esses valores assustam o mercado de investidores, que já questionam a segurança dos investimentos no país, que antes era vantajoso por ser caracterizado como um mercado que respeitava as regras e agora passa a ser visto como incerto.
Esse questionamento e a incerteza no mercado financeiro impactam negativamente a alta da taxa de juros do Tesouro norte-americano e recaem sobre a desvalorização de sua moeda, o dólar, que tem perdido terreno em acordos comerciais de países parceiros que se unem em busca de moedas alternativas, como é o caso do bloco dos BRICS.
A moeda americana tem estado em rota descendente desde o retorno do presidente Donald Trump à Casa Branca. Hoje, segundo o Bloomberg Dollar Spot Index (BBDXY), a moeda acumula uma queda de 9% no ano.
O recuo do dólar, apesar dos juros elevados, reforça o peso das decisões políticas sobre os fundamentos do mercado financeiro. A moeda de referência global vem perdendo força diante de outras moedas estrangeiras, inclusive de países emergentes, em meio à expectativa de cortes nas taxas pelo Federal Reserve, ao avanço do déficit fiscal e à desaceleração do consumo interno.
A redução das tensões no Oriente Médio e as incertezas sobre a política tarifária dos Estados Unidos também reduziram o papel tradicional do dólar como porto seguro. Soma-se a isso uma reconfiguração no fluxo global de capitais, com investidores voltando os olhos para economias como o Brasil, impulsionadas por juros atrativos, robustez comercial e maior protagonismo nos BRICS, o que fortalece a busca por alternativas à posição dominante do dólar americano sobre o mercado global.
Em 2024, os EUA chegaram a 771,4 mil pessoas em situação de rua, um aumento de 18% comparado a 2023, segundo uma análise anual do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano (HUD, na sigla em inglês). A forte alta no valor dos aluguéis, aliada à estagnação salarial entre famílias de média e baixa renda, foi apontada no relatório como uma das causas do problema. Além disso, o documento cita catástrofes naturais que desabrigaram famílias, o aumento da imigração e o fim das medidas emergenciais contra despejos e de apoio à renda, implementadas durante a pandemia.
O país norte-americano registra, em um ano, mais de 107 mil mortes por overdose, sendo 70% dos casos provocados por opioides como o fentanil, conforme aponta o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Trata-se de uma droga sintética 100 vezes mais forte que a morfina e já é considerada uma das crises de saúde pública mais graves da história do país, sobrecarregando o sistema público e social, enquanto organizações tentam conter os danos com naloxona (um antídoto para overdoses) e oferecer tratamento para dependentes químicos, mas os recursos são escassos diante da dimensão do problema.
Os EUA não são mais a única opção, deixaram de ser uma superpotência indiscutível e dominante em todos os espaços. Ao longo da história, já vimos que a ordem mundial muda e impérios caem de suas posições.
Já existem sinais de mudança na ordem global, mas é muito difícil afirmar que uma nação marcada por sua capacidade de adaptação e reforma em resposta a crises — como nos casos da Grande Depressão e da crise financeira de 2008 —, além de manter um dos maiores poderios militares, entre diversos outros fatores que asseguram sua hegemonia, venha a ter uma queda rápida.