O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu entrevista ao jornal norte-americano The Washington Post, na qual afirmou que não há possibilidade de recuar em suas decisões sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo após sanções impostas pelo governo de Donald Trump.
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“Não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro sequer”, afirmou Moraes, ressaltando que a Justiça brasileira seguirá os trâmites legais:
“Receberemos as acusações, analisaremos as provas e quem deve ser condenado será condenado; quem deve ser absolvido, será absolvido”.
As sanções foram aplicadas pela Lei Magnitsky, usada tradicionalmente contra ditadores e terroristas. O governo americano alegou que Moraes conduz uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro, apesar da ação penal ocorrer dentro dos procedimentos legais do Brasil.
Com a decisão, todos os bens de Moraes nos Estados Unidos estão bloqueados, assim como qualquer empresa vinculada a ele. Ele também fica proibido de realizar transações com cidadãos e empresas americanas, incluindo o uso de cartões de crédito de bandeira norte-americana.
Na entrevista, Moraes comentou o julgamento do núcleo central da trama golpista, que envolve Bolsonaro e outros sete investigados, marcado pelo STF entre 2 e 12 de setembro. O jornal chamou o ministro de “xerife da democracia” e destacou que seus “decretos expansivos” tiveram repercussão internacional, citando medidas impostas a redes sociais como o X, de Elon Musk.

“Para uma cultura americana, é mais difícil compreender a fragilidade da democracia, porque lá nunca houve um golpe. No Brasil, vivemos anos de ditadura sob Getúlio Vargas, mais 20 anos de regime militar e inúmeras tentativas de golpe. Quanto mais você é atacado, mais fortalece seus anticorpos e busca mecanismos preventivos”, declarou Moraes.
O ministro criticou as narrativas falsas disseminadas por apoiadores de Bolsonaro, afirmando que prejudicam o relacionamento histórico entre Brasil e Estados Unidos. Ele citou que o governo americano recentemente aplicou tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados, e mencionou o papel do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que atua como interlocutor do governo Trump desde fevereiro.
“Essas narrativas falsas acabaram envenenando o relacionamento — narrativas sustentadas por desinformação nas redes sociais. O Brasil precisa esclarecer os fatos, e é isso que está sendo feito”, afirmou Moraes.
Sobre as sanções, críticas e ameaças recebidas, o ministro reconheceu que a situação não é agradável, mas reforçou a necessidade de defender a democracia:
“Enquanto houver necessidade, a investigação continuará”.
A entrevista do ministro ao Washington Post evidencia a tensão diplomática entre Brasil e EUA, ao mesmo tempo em que reafirma a postura firme de Moraes na condução dos processos que envolvem o ex-presidente e aliados, reforçando a independência do Judiciário brasileiro diante de pressões externas.