Delator do plano de golpe, Mauro Cid pede para deixar Exército

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) e delator no processo que apura um plano de golpe de Estado, pediu baixa do Exército. A informação foi confirmada por sua defesa durante o primeiro dia de julgamento do “núcleo 1” no Supremo Tribunal Federal (STF).

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Segundo o advogado Jair Alves Pereira, o militar solicitou o desligamento porque “não tem mais condições psicológicas de continuar como militar”.

De acordo com a defesa, o pedido foi feito em 4 de agosto. Sem completar 35 anos de carreira, Cid requereu enquadramento na chamada “quota compulsória”, o que lhe daria direito a remuneração proporcional ao tempo de serviço.

O advogado ressaltou que o militar perdeu o que considerava seu maior sonho: a carreira no Exército.

“Ele se expôs, se afastou de familiares e amigos, perdeu a carreira militar que era um sonho. Ser ajudante de ordens só atrapalhou a vida de Cid”, disse Pereira.

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A defesa explicou que a decisão de pedir a baixa está diretamente ligada ao impacto da colaboração premiada. Cid teria considerado o processo “traumático”, por envolver não apenas Bolsonaro, mas também generais de alta patente, como Walter Braga Netto, preso por tentar atrapalhar as investigações, além de antigos colegas de farda.

Jair Alves Ferreira abriu as sustentações das defesas, representando o tenente-coronel Mauro Cid - Foto: Rosinei Coutinho/STF
Jair Alves Ferreira abriu as sustentações das defesas, representando o tenente-coronel Mauro Cid – Foto: Rosinei Coutinho/STF

O advogado argumentou ainda que a delação custou caro a Cid, provocando isolamento e a imagem de traidor entre militares. Apesar disso, a defesa destacou que o acordo foi fundamental para o avanço do processo:

“A delação foi decisiva para a revelação de temas centrais da trama golpista”.

As defesas de Bolsonaro e de Braga Netto contestam o acordo de colaboração, alegando que houve pressão externa e abalo psicológico sobre Cid. A equipe do tenente-coronel, no entanto, reforça que tais circunstâncias não invalidam as provas e informações fornecidas.

O pedido de desligamento segue em análise por uma comissão do Exército, que avalia a conveniência de aceitar a saída. Só após essa etapa o requerimento será enviado ao comandante do Exército, general Tomás Paiva, que terá a decisão final.

Não há prazo definido para a conclusão do processo.

Situação no julgamento

Por ser colaborador premiado, a defesa de Cid foi a primeira a se manifestar no STF nesta terça-feira (2). Depois, falarão os advogados dos outros sete réus, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Cid responde pelos crimes de:

  • Organização criminosa armada;
  • Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • Golpe de Estado;
  • Dano qualificado contra o patrimônio da União;
  • Deterioração de patrimônio tombado.

A delação de Mauro Cid serviu de base para a denúncia contra os demais réus do processo.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

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