O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) e delator no processo que apura um plano de golpe de Estado, pediu baixa do Exército. A informação foi confirmada por sua defesa durante o primeiro dia de julgamento do “núcleo 1” no Supremo Tribunal Federal (STF).
LEIA TAMBÉM: Defesa de Mauro Cid nega coação, reforça validade da delação e elogia atuação da PF em julgamento no STF
Segundo o advogado Jair Alves Pereira, o militar solicitou o desligamento porque “não tem mais condições psicológicas de continuar como militar”.
De acordo com a defesa, o pedido foi feito em 4 de agosto. Sem completar 35 anos de carreira, Cid requereu enquadramento na chamada “quota compulsória”, o que lhe daria direito a remuneração proporcional ao tempo de serviço.
O advogado ressaltou que o militar perdeu o que considerava seu maior sonho: a carreira no Exército.
“Ele se expôs, se afastou de familiares e amigos, perdeu a carreira militar que era um sonho. Ser ajudante de ordens só atrapalhou a vida de Cid”, disse Pereira.
Confira “Filhos do Silêncio” de Andrea dos Santos
A defesa explicou que a decisão de pedir a baixa está diretamente ligada ao impacto da colaboração premiada. Cid teria considerado o processo “traumático”, por envolver não apenas Bolsonaro, mas também generais de alta patente, como Walter Braga Netto, preso por tentar atrapalhar as investigações, além de antigos colegas de farda.

O advogado argumentou ainda que a delação custou caro a Cid, provocando isolamento e a imagem de traidor entre militares. Apesar disso, a defesa destacou que o acordo foi fundamental para o avanço do processo:
“A delação foi decisiva para a revelação de temas centrais da trama golpista”.
As defesas de Bolsonaro e de Braga Netto contestam o acordo de colaboração, alegando que houve pressão externa e abalo psicológico sobre Cid. A equipe do tenente-coronel, no entanto, reforça que tais circunstâncias não invalidam as provas e informações fornecidas.
O pedido de desligamento segue em análise por uma comissão do Exército, que avalia a conveniência de aceitar a saída. Só após essa etapa o requerimento será enviado ao comandante do Exército, general Tomás Paiva, que terá a decisão final.
Não há prazo definido para a conclusão do processo.
Situação no julgamento
Por ser colaborador premiado, a defesa de Cid foi a primeira a se manifestar no STF nesta terça-feira (2). Depois, falarão os advogados dos outros sete réus, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Cid responde pelos crimes de:
- Organização criminosa armada;
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Golpe de Estado;
- Dano qualificado contra o patrimônio da União;
- Deterioração de patrimônio tombado.
A delação de Mauro Cid serviu de base para a denúncia contra os demais réus do processo.








