Diálogo Brasil-EUA: Lula telefona para Trump e solicita fim de sobretaxa de 50%

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve, nesta segunda-feira (6), uma conversa, por telefone, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em um momento delicado da relação bilateral, marcada pelo chamado tarifaço americano sobre produtos brasileiros.

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A ligação estava marcada para as 10h30 e teve duração de cerca de 30 minutos, ocorrendo no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Lula esteve acompanhado do vice-presidente Geraldo Alckmin, do assessor especial Celso Amorim e dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Sidônio Palmeira (Secom).

Após a conversa, o governo brasileiro divulgou nota oficial destacando os principais pontos do contato. Entre eles, Lula convidou Trump para a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, no Pará, em novembro, e solicitou a revogação da sobretaxa de 50% aplicada a produtos brasileiros, o chamado tarifaço. Mais cedo, o ministro Fernando Haddad classificou o diálogo como positivo.

Declaração de Trump e perspectiva de encontro futuro

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou que falou por videoconferência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e descreveu a ligação como “muito boa”, ressaltando que apreciou a conversa.

Trump afirmou que os dois farão um encontro “em um futuro não muito distante”, e que a reunião presencial deve ocorrer tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Em suas palavras:

“Nesta manhã, eu fiz uma chamada telefônica muito boa com o presidente Lula, do Brasil. Nós discutimos muitas coisas, mas a conversa focou principalmente na economia e no comércio entre os dois países. Nós teremos novas discussões e nos reuniremos em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Eu gostei da ligação telefônica — nossos países irão muito bem juntos!”

A conversa ocorreu após Trump anunciar de surpresa na Assembleia Geral da ONU que os dois líderes haviam combinado uma ligação telefônica durante um breve encontro nos bastidores. Segundo o governo brasileiro, a reunião durou cerca de 30 minutos, sendo Trump quem iniciou a chamada.

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Sobre o futuro encontro, nenhuma data foi definida. O governo brasileiro destacou que Lula levantou a possibilidade de reunião durante a Cúpula da ASEAN, na Malásia, reiterou o convite a Trump para a COP30 em Belém (PA) e se dispôs a viajar aos Estados Unidos. A Casa Branca ainda não confirmou negociações sobre a agenda do encontro.

Histórico do encontro e contexto diplomático

A possibilidade de um encontro entre Lula e Trump havia sido anunciada no mês passado pelo presidente norte-americano durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Na ocasião, os dois líderes tiveram um breve contato: Trump discursou logo após Lula, e ambos se cumprimentaram, constatando uma boa “química”, segundo o próprio Trump.

O ministro Mauro Vieira destacou que os presidentes têm “contato” combinado, e auxiliares de Lula haviam planejado inicialmente um primeiro contato por telefone ou vídeo antes de uma reunião presencial. A estratégia visa tirar dúvidas, identificar pontos de convergência e divergência na negociação comercial e estabelecer uma relação gradual de confiança.

Lula afirmou na ONU que “aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu”, referindo-se ao encontro com Trump. Ele também ressaltou que a independência do Judiciário e a soberania do Brasil não são temas negociáveis, mas demonstrou disposição para dialogar sobre comércio, regulação de big techs e exploração de terras raras, temas de interesse dos Estados Unidos.

Relação delicada e cautela diplomática

A relação entre os dois presidentes é considerada delicada, especialmente desde a eleição de Trump no final de 2024. Diplomatas brasileiros mantêm cautela, devido ao histórico de idas e vindas do presidente americano e à possibilidade de interferência de seus auxiliares na aproximação com Lula.

O tarifaço, imposto de forma progressiva desde agosto, atingiu cerca de 36% das exportações brasileiras aos EUA, com sobretaxa de 50% sobre diversos produtos nacionais. Trump justificou a medida citando um suposto déficit econômico com o Brasil (não confirmado pelos números oficiais) e questões políticas relacionadas ao processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, incluindo preocupações sobre direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos.

Apesar disso, o tarifaço não teve efeito sobre a condenação de Bolsonaro, que cumpre pena de 27 anos e três meses pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe e outros crimes.

Nota oficial do governo brasileiro

Segundo a nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o telefonema foi conduzido em tom amistoso, e os presidentes relembraram a “boa química” observada na ONU. Lula destacou que o contato representa uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre Brasil e Estados Unidos, e ressaltou que o Brasil mantém superávit na balança de bens e serviços com os EUA, sendo um dos três países do G20 nessa condição.

O presidente solicitou a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas a autoridades brasileiras. Por sua vez, Trump designou o secretário de Estado Marco Rubio para dar continuidade às negociações, em conjunto com Alckmin, Vieira e Haddad. Ambos os líderes acordaram em se encontrar pessoalmente em breve, com possibilidade de reunião na Cúpula da ASEAN, na Malásia, e Lula reiterou o convite para a COP30 e se dispôs a viajar aos EUA.

Além disso, os presidentes trocaram contatos diretos, garantindo via de comunicação imediata. A conversa foi acompanhada pelo vice-presidente, ministros e assessor especial do presidente brasileiro.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

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