Em entrevista à Record nesta quinta-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou com firmeza que “não sou obrigado a comprar dólar” para realizar comércio com países parceiros, incluindo nações do Brics, como Venezuela, Bolívia e Chile, além de países da União Europeia, Suécia e China. A declaração é uma reação direta à ameaça do governo de Donald Trump, que anunciou tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, sendo essa sanção vinculada à discussão sobre a criação de uma moeda alternativa ao dólar no bloco.
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Lula explicou que os países do Brics discutem intensamente uma nova moeda para viabilizar o comércio entre si, reduzindo a dependência da moeda norte-americana. A declaração reforça um movimento global de desdolarização, adotado por blocos como União Europeia, Austrália, China e Rússia há anos. “Quem tem a máquina de produzir dólar são os EUA, não nós”, destacou o presidente, questionando por que os demais países precisariam depender de uma moeda que não controlam.
O presidente também classificou a ameaça tarifária como uma falta de respeito entre nações amigas, sugerindo que Trump deveria ter levantado o tema em fóruns multilaterais como G7 ou G20, onde os BRICS também estão presentes, antes de recorrer à imposição econômica unilateral.
Lula anunciou que o governo está tomando medidas diplomáticas imediatas. Em preparação à Organização Mundial do Comércio (OMC), o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento iniciaram conversas com outros países que também sofreram sanções para, juntos, apresentar recurso multilateral alegando desequilíbrio nas medidas tarifárias dos EUA. Em paralelo, caso as negociações não avancem, o Brasil pode aplicar a recém-aprovada Lei da Reciprocidade, retaliando com tarifas equivalentes sobre produtos norte-americanos.
O presidente também ironizou a ideia de incluir Trump no bloco dos Brics, dizendo que ele demonstrou interesse e possivelmente ficaria preocupado com a reunião do grupo. A fala teve tom de provocação diplomática, lembrando que Índia, Brasil e África do Sul já participaram do G7, enquanto Trump não recebeu convite.
A postura representa um momento decisivo da política econômica brasileira. O Brasil não só desafia o ordenamento monetário global como também busca fortalecer sua posição geopolítica e comercial. Caso as negociações e a desdolarização avancem, o país pode abrir um novo capítulo para o comércio internacional, promovendo autonomia e reduzindo a vulnerabilidade às políticas econômicas dos EUA.