O leilão para a construção do primeiro túnel submerso do Brasil, ligando Santos e Guarujá, será realizado nesta sexta-feira (5), às 16h, na sede da B3, em São Paulo. O projeto, considerado histórico e estratégico para a mobilidade regional, terá investimento estimado em R$ 6,8 bilhões e previsão de conclusão até 2030, prometendo transformar o transporte entre as duas cidades.
LEIA TAMBÉM: Haddad diz não haver benefícios em medida que permite Congresso a demitir diretores do BC
Duas companhias estrangeiras estão habilitadas para participar do leilão: a Acciona Concesiones, da Espanha, e a Mota-Engil, de Portugal. A vencedora será definida pela oferta do maior desconto sobre a parcela mensal paga pelo poder público durante os 30 anos de concessão. Caso haja empate, haverá rodada de lances ao vivo.
A iniciativa será realizada por meio de uma parceria entre os governos estadual e federal, com participação da iniciativa privada, que ficará responsável pela construção, operação e manutenção do túnel.
O túnel terá 1,5 km de extensão, sendo cerca de 870 metros submersos, ligando as regiões de Outeirinhos e Macuco, em Santos, ao bairro Vicente de Carvalho, em Guarujá. Ele será aberto para veículos de passeio, transporte público, caminhões, bicicletas e pedestres. Atualmente, cerca de 78 mil pessoas atravessam diariamente entre as duas margens utilizando barcos pequenos e balsas.
A obra usará a técnica de túnel imerso, inédita no Brasil, mas consolidada na Europa e na Ásia. Grandes blocos de concreto serão pré-moldados em docas secas, testados em terra, e transportados por flutuação até o ponto de instalação. No local, os módulos serão afundados gradualmente, encaixados no leito do canal e recobertos por camadas de areia e pedras.
O método foi escolhido devido ao solo da região, formado por argilas moles e sedimentos fluviais, que não permitem escavações profundas. Além disso, apresenta vantagens ambientais e urbanas, com menos desapropriações, impacto visual reduzido e execução mais rápida e eficiente. A construção de uma ponte foi descartada por restrições da Base Aérea de Santos e pelo intenso tráfego de navios no canal portuário.
Confira “Filhos do Silêncio” de Andrea dos Santos
A construção seguirá três fases rigorosas. Na primeira, será feita a preparação do leito do canal, construção dos módulos e testes de resistência e vedação. Na segunda etapa, os blocos serão rebocados até o ponto exato de submersão, afundados gradualmente com monitoramento eletrônico, nivelados e fixados com pinos de aço sobre o leito de areia. Na fase final, a estrutura será recoberta com pedras, garantindo proteção contra impactos e movimentações naturais das correntes marítimas.
Um projeto centenário
A ideia de criar uma ligação entre Santos e Guarujá surgiu há quase 100 anos. O primeiro estudo sobre a travessia foi apresentado em 1927, durante o governo de Júlio Prestes, pelo engenheiro Enéas Marini. Na década de 1940, o engenheiro civil e arquiteto Francisco Prestes Maia elaborou o Plano Regional de Santos, que se tornou um livro dividido em capítulos.
O oitavo capítulo tratava especificamente da ponte que ligaria as ilhas de São Vicente e Santo Amaro, com a proposta de uma ponte levadiça inspirada na Tower Bridge, em Londres.
Apesar do longo período sem avanços, a proposta foi retomada, e o edital foi lançado em 2024 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em parceria com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A obra é considerada estratégica para a mobilidade da região, e ambos os líderes políticos destacaram a importância da colaboração entre o governo federal e o estadual. No lançamento do edital, Tarcísio agradeceu ao presidente pelo compromisso com a obra, e Lula afirmou:
“Não é possível a gente deixar de trabalhar de forma conjunta, de compartilhar esforço, porque eu não gosto de fulano, o fulano não gosta de mim”.
Mais recentemente, porém, em discursos voltados para suas bases eleitorais e em redes sociais, tanto Lula quanto Tarcísio passaram a mencionar a obra sem citar o outro, reforçando o caráter simbólico do projeto. Tarcísio, ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro, é apontado como possível candidato à presidência em 2026, enquanto Lula já indicou que o governador poderá representar a oposição na próxima campanha.
O túnel Santos-Guarujá deve se tornar a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e promete oferecer uma alternativa moderna e segura para a travessia diária de milhares de pessoas. Além da integração regional, a obra representa um marco tecnológico, com soluções de engenharia inéditas no país, e pode servir como modelo para futuros projetos de infraestrutura.
Para a população da Baixada Santista, a expectativa é de uma significativa melhoria na mobilidade urbana e redução da dependência de balsas e barcos, aproximando o sonho de uma travessia mais rápida e eficiente que vem sendo discutida há quase um século.
