O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), que começa nesta terça-feira (2), já movimenta a imprensa internacional. Veículos de destaque em diferentes países analisaram não apenas o caráter inédito do processo, mas também as tensões familiares, as pressões externas e os desdobramentos políticos em torno do caso.
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The Economist: lição de democracia e golpe “esquisito e bárbaro”
A revista britânica The Economist publicou três reportagens recentes sobre Bolsonaro. Em uma delas, descreveu os atos de 8 de janeiro de 2023 como uma “tentativa de golpe esquisita e bárbara”, marcada por cenas de acampamentos com clima quase festivo diante de quartéis em Brasília.
Em outro texto, classificou o julgamento como um marco histórico para o Brasil, ressaltando que será a primeira vez que o país levará um ex-presidente ao banco dos réus por tramar contra o resultado de uma eleição. A publicação também destacou que, enquanto os Estados Unidos ainda não julgaram Donald Trump por ações semelhantes em 2020, o Brasil estaria “dando uma lição de democracia” aos americanos.

A revista também detalhou as pressões de Trump em favor de Bolsonaro — como tarifas comerciais e tentativas de sanção —, além da atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA, fazendo lobby contra Alexandre de Moraes. Para a revista, as manobras não surtiram efeito e acabaram fortalecendo Lula internamente.
The New York Times: risco de fuga e papel do STF
O New York Times trouxe foco para as medidas de vigilância contra Bolsonaro. Segundo o jornal, autoridades brasileiras aumentaram o monitoramento por temerem uma possível fuga do ex-presidente, após a descoberta de um rascunho de pedido de asilo à Argentina.
A publicação descreveu cenas de policiais à paisana posicionados em frente ao condomínio de Bolsonaro e relatou que Alexandre de Moraes autorizou reforço policial no entorno da residência.
Ao mesmo tempo, o jornal norte-americano abriu debate sobre o Judiciário brasileiro. Em sua análise, questionou se o STF “ampliou demais seus poderes” ao dar protagonismo a Moraes nas investigações ou se apenas reagiu a uma ameaça autoritária concreta.

O NYT também mencionou a carta enviada por Trump a Lula, pedindo o fim do processo e chamando o julgamento de “caça às bruxas”, mas avaliou que a pressão americana apenas reforçou a determinação das instituições brasileiras.
Bloomberg: tensões na família Bolsonaro
A agência Bloomberg destacou as divisões internas no clã Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro, segundo a reportagem, teria comemorado como vitória pessoal a decisão de Trump de impor tarifas de 50% contra o Brasil, acreditando que havia convencido a Casa Branca a agir em favor do pai.
Contudo, a análise apontou que a atitude foi vista como “imatura” até mesmo dentro da família. Para a Bloomberg, a estratégia acabou se voltando contra os Bolsonaro: as tarifas reforçaram o discurso nacionalista de Lula e aumentaram sua popularidade.

A agência avaliou que a dinastia política construída por Jair Bolsonaro desde 2018 está sob risco de desmoronar diante do peso do julgamento e da perda de apoio externo.
The Guardian: monitoramento e condenação quase certa
O jornal britânico The Guardian noticiou que Bolsonaro está sob vigilância 24 horas, classificado como “risco de fuga”. A decisão foi tomada após a descoberta do suposto plano de asilo à Argentina.
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A publicação lembrou que o ex-presidente já cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica e destacou que “a probabilidade de condenação é alta”, considerando as provas reunidas até agora.

Le Monde: risco de prisão longa e “traição” interna
O francês Le Monde também enfatizou a classificação de Bolsonaro como risco de fuga e a possibilidade de uma pena longa em caso de condenação. O jornal ressaltou que Bolsonaro alega perseguição do Judiciário em aliança com o governo Lula para impedi-lo de disputar as eleições de 2026.
A reportagem ainda repercutiu declarações de Lula sobre a atuação de Eduardo Bolsonaro nos bastidores. Para o presidente, a aproximação do deputado com Trump e suas articulações em Washington representaram “uma das piores traições que o país sofreu”.

Com sentença prevista até 12 de setembro, o julgamento de Bolsonaro e outros sete aliados é tratado pela imprensa internacional como um divisor de águas. A cobertura reforça que o processo simboliza a força — e os dilemas — do Judiciário brasileiro em lidar com uma tentativa de golpe de Estado.
Entre elogios à democracia do Brasil, críticas ao STF e análises sobre o impacto político e familiar, a percepção comum é de que o caso Bolsonaro ultrapassa fronteiras e se tornou um teste de credibilidade para as instituições democráticas no país.









