A Faixa de Gaza enfrenta hoje uma das piores crises de fome já registradas, com cerca de 1,9 milhão de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, segundo dados do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA). Relatórios recentes de organizações como o Programa Mundial de Alimentação (PMA) e Médicos Sem Fronteiras (MSF) indicam que famílias inteiras chegam ao ponto de consumir raízes e folhas para sobreviver, enquanto crianças perdem peso de forma alarmante e hospitais lidam com surtos de desnutrição.
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Desde o início das operações militares no território, o acesso a rotas de suprimentos ficou severamente restrito. Israel mantém controle estrito sobre as fronteiras terrestres e marítimas de Gaza, autorizando convênios humanitários pontuais, porém limitados. Em muitos casos, caminhões levam dias para atravessar postos de inspeção, e grande parte da carga, mesmo itens médicos, combustível e alimentos, é retida para verificação, reduzindo drasticamente o volume efetivo de ajuda que chega à população.

O colapso logístico e bloqueio rigoroso em Gaza
O bloqueio intensificou-se após relatórios de segurança que associam possíveis desvios de carga ao uso pelo Hamas. Autoridades israelenses afirmam que a contenção é necessária para impedir que materiais bélicos entrem no enclave, mas organismos internacionais apontam que as restrições acabaram prejudicando também os civis mais vulneráveis.
Em instalações como o hospital Al‑Shifa, principal unidade de saúde de Gaza, médicos relatam casos de crianças com menos de cinco anos em estado crítico de desnutrição. Profissionais alertam que a repetição de ciclos de fome pode causar danos irreversíveis no desenvolvimento físico e cognitivo dos menores, além de aumentar a mortalidade neonatal e infantil.
Pacientes adultos não ficam atrás, idosos e pessoas com doenças crônicas sofrem com falta de medicamentos e de calorias mínimas para manter funções vitais. O MSF registrou um aumento de 40% nos atendimentos de emergência relacionados à desnutrição em apenas um mês, evidenciando a rapidez com que a situação se agrava.
Posições de Israel e o apelo por segurança
O governo de Israel reconhece o desafio humanitário, mas ressalta que todas as remessas de ajuda passam por inspeções detalhadas.
“Nossa prioridade é proteger a população civil israelense de ataques”, declarou um porta-voz do Ministério da Defesa, afirmando que “corredores de ajuda humanitária continuam abertos, dentro de estritas condições de segurança”.
Diplomatas israelenses reforçam que as críticas devem considerar o contexto de guerra e insistem que classificar o bloqueio como “bloqueio total” ignora os riscos à segurança nacional. No entanto, a pressão internacional cresce, com membros do Conselho de Segurança da ONU pedindo garantias de que o auxílio chegue sem entraves.
Mobilização internacional e propostas de alívio
Diante do agravamento, vários países e organismos multilaterais intensificam apelos por um cessar-fogo imediato que garanta corredores ininterruptos. O Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU classificou a crise como “beirando um uso deliberado da fome como instrumento de guerra”. Embaixadores europeus e americanos já informaram que avaliarão sanções adicionais caso as restrições persistam.
Especialistas em ajuda humanitária sugerem medidas práticas para acelerar entregas:
- Estabelecimento de pontos de apoio dentro de Gaza, reduzindo distâncias de transporte.
- Implantação de inspeções móveis e rápidas, com scanners de última geração.
- Uso de corredores aéreos e marítimos sob guarda internacional para suprir áreas mais isoladas.
Sem uma ação coordenada que combine segurança e acesso humanitário, a fome pode se agravar ainda mais nas próximas semanas.