As ações da Embraer registraram alta superior a 10%, nesta quarta-feira (30), impulsionadas pela inclusão do setor aeronáutico entre as exceções da tarifa extra de 40% que os Estados Unidos impuseram sobre produtos brasileiros. A sobretaxa, anunciada pelo presidente Donald Trump e que totaliza 50%, entrará em vigor no dia 6 de agosto.
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Embora o governo americano tenha oficializado a aplicação da tarifa, que visa pressionar o Brasil em meio a tensões políticas, uma lista de mais de 700 produtos foi divulgada, revelando uma série de isenções estratégicas para setores-chave da economia brasileira. Além da aviação civil, alimentos, combustíveis, veículos, metais e madeira estão entre os poupados, trazendo um alívio importante para a balança comercial.
Alívio para a Embraer e o setor aeronáutico
O maior destaque ficou com a Embraer, que vinha enfrentando forte apreensão desde o anúncio inicial do tarifaço. A empresa estimava um custo adicional de até R$ 50 milhões por avião, com impacto acumulado em torno de R$ 20 bilhões até 2030, o que poderia comprometer sua competitividade no mercado internacional.

Em entrevista recente, Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer, alertou que os efeitos da sobretaxa seriam “tão severos quanto os vivenciados durante a pandemia de Covid-19”, quando a companhia viu sua receita cair 30% e precisou cortar cerca de 20% da força de trabalho.
“Avião não é commodity. Nosso maior mercado é os EUA, e não temos como reposicionar essa produção para outros países”, afirmou Gomes Neto.
Além disso, o modelo comercial da aviação, em que as companhias aéreas arcariam com as tarifas impostas, indicava que o aumento do custo seria repassado aos clientes, um risco para a demanda num mercado de margens apertadas, segundo o analista Alberto Valerio, do UBS BB.
Com a exclusão do setor aeronáutico da tarifa, a Embraer evita o cancelamento ou postergação de pedidos e mantém sua competitividade no maior mercado mundial de aviação civil.
Quais produtos ficaram de fora da sobretaxa?
Além dos aviões civis, a ordem executiva do governo Trump isentou da tarifa adicional:
- Veículos e peças: Sedans, SUVs, minivans, vans de carga e caminhões leves, além de seus componentes;
- Produtos energéticos: Petróleo, gás natural, carvão, querosene, óleos lubrificantes, parafina e até energia elétrica;
- Produtos agrícolas e de madeira: Castanha-do-brasil, suco e polpa de laranja, madeira tropical serrada, polpa de madeira, fios de sisal;
- Metais e minerais: Ferro, aço, alumínio, cobre, estanho, ouro, prata, ferroníquel, ferronióbio e produtos ferrosos derivados;
- Fertilizantes: Produtos amplamente utilizados pela agricultura brasileira;
- Bens retornados e em trânsito: Itens exportados para reparo e produtos que estavam em trânsito antes da vigência da ordem;
- Produtos pessoais e donativos: Itens em bagagem acompanhada, doações humanitárias e materiais culturais e informativos.
Contexto político e medidas adicionais dos EUA
A decisão de elevar a tarifa em 40 pontos percentuais, totalizando 50%, foi justificada pelo governo americano como resposta a supostas ameaças à segurança nacional, à economia e à política externa dos EUA, atribuídas a recentes ações do Brasil.
No decreto assinado por Trump, o governo brasileiro é criticado por promover perseguição política contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, e por supostas violações a direitos humanos e enfraquecimento da democracia.

O texto cita nominalmente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusando-o de pressionar empresas americanas a censurar discursos políticos e fornecer dados de usuários sob ameaça de sanções.
Além da tarifa, Trump ordenou o cancelamento dos vistos de Moraes, de outros ministros do STF e de seus familiares, ampliando a crise diplomática.
Impacto para o Brasil e expectativas
A sobretaxa deve impactar significativamente as exportações brasileiras, sobretudo em setores que não foram poupados. No entanto, as exceções concedidas trazem alívio para segmentos estratégicos e mantêm canais importantes de comércio bilateral.
A Embraer ressaltou o papel fundamental da indústria aeroespacial para a economia de ambos os países e defendeu a continuidade do diálogo diplomático para reverter a medida e restabelecer a tarifa zero para o setor global.
Com os mercados atentos aos desdobramentos, o Brasil agora enfrenta o desafio de administrar os efeitos comerciais e políticos desta medida, buscando evitar impactos mais profundos em sua economia e nas relações com os EUA.