Enquanto o tarifaço de 50% anunciado pelos Estados Unidos para importações brasileiras acende alertas no comércio exterior, alguns produtos do setor de petróleo e gás foram poupados da medida. Um documento oficial da Casa Branca divulgado, nesta quarta-feira (30), revela que 22 tipos de petróleo e derivados brasileiros não serão atingidos pelas novas tarifas, uma notícia que traz alívio parcial ao setor energético nacional.
A lista de exceções inclui óleos brutos com diferentes graus API, querosenes de aviação, óleos lubrificantes e misturas específicas utilizadas na indústria, que permanecem com a taxação anterior, sem o acréscimo de 50% anunciado para outros produtos.
O governo norte-americano justificou a manutenção das tarifas reduzidas para certos produtos com base em interesses estratégicos e de segurança energética interna.
“São produtos que, pela dependência do mercado norte-americano ou pelo impacto que teriam na cadeia produtiva doméstica, foram excluídos para não provocar desequilíbrios internos”, diz uma fonte ligada ao Departamento de Comércio dos EUA.
As exclusões incluem:
- Petróleo bruto com densidade abaixo e acima de 25 graus API;
- Misturas de combustíveis contendo ao menos 70% de petróleo;
- Querosene de aviação e outros óleos leves não destinados a voos comerciais;
- Graxas e óleos lubrificantes com ou sem aditivos.
Esses itens representam uma parcela significativa das exportações brasileiras no segmento e são altamente utilizados por indústrias norte-americanas de transporte, energia e manufatura.
Para o setor de óleo e gás no Brasil, as isenções são vistas como uma vitória parcial. Representantes do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) afirmaram que a decisão “mitiga os danos mais imediatos”, mas não elimina os riscos de longo prazo.

“É positivo que alguns produtos tenham sido poupados, mas a medida como um todo ainda pode gerar insegurança para investidores e parceiros comerciais. O mercado precisa de estabilidade para crescer”, afirmou um porta-voz da entidade.
O governo brasileiro segue tentando reverter o tarifaço por meio de negociações diplomáticas. O Ministério das Relações Exteriores já acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) e prepara medidas de retaliação comercial, conforme prevê a Lei de Reciprocidade.
Apesar das isenções, grande parte da pauta de exportação de petróleo segue sob risco. O Brasil exportou mais de US$ 18 bilhões em petróleo bruto e derivados para os EUA em 2024, tornando o país um dos principais fornecedores de energia da maior economia do mundo.
Com o novo cenário, empresas como a Petrobras avaliam redirecionar parte da produção para mercados asiáticos, sobretudo China, Índia e Japão. A CEO da estatal, Magda Chambriard, declarou que “a flexibilidade operacional da companhia permite reposicionar estrategicamente os embarques, se necessário”.

A nova tarifa dos EUA faz parte de uma política econômica mais protecionista do governo Trump, que voltou à presidência neste ano prometendo fortalecer a indústria nacional. O Brasil foi um dos países atingidos pela onda tarifária, junto a outros parceiros latino-americanos.
Internamente, o governo Lula tem criticado a medida e tenta articulá-la como um caso de protecionismo abusivo, que contraria acordos internacionais.
A exclusão de 22 tipos de derivados do petróleo do tarifaço americano alivia parte das preocupações do setor energético brasileiro, mas não elimina os riscos que a nova política comercial dos EUA representa para as relações bilaterais. O governo brasileiro intensifica sua atuação diplomática enquanto empresas começam a traçar rotas alternativas de exportação. O cenário ainda é incerto, e os próximos meses serão decisivos para definir o impacto real das novas tarifas sobre a economia do país.